No jargão alemão nunca existiu o termo “solução final”. O extermínio em massa dos judeus da Europa era denominado pelos nazistas endlösung (tratamento especial); representando o ápice de uma década de graves medidas discriminatórias que cresciam em violência a cada ano. Entre os anos 1933 e 1945, os alemães usavam frequentemente eufemismos para disfarçar a natureza de seus crimes. Um deles era a expressão acima, empregada para se referir ao plano de aniquilação total do povo judeu, e não se sabe ao certo quando os carrascos do Terceiro Reich decidiram aplica-lo.
Sob a liderança de Adolf Hitler, a segregação dos judeus foi colocada em prática por etapas. Após o “Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei” (NSDAP) ter tomado o poder na Alemanha em 31 de janeiro de 1933, o racismo por ele promovido legitimou a publicação de leis antissemitas, gerou boicotes econômicos e suscitou grandes ondas de violência contra os judeus, tais como o pogrom “Kristallnacht”, cujo principal objetivo era isolar sistematicamente os judeus da sociedade e forçá-los a deixar o país.
“Juden Raus” (Judeus saiam) era o slogan utilizado com extrema frequência em discursos públicos, passeatas e manifestações multitudinárias, como também nas manchetes do jornal “Der Stürmer”, (editado por Julius Streicher), um importante veículo de comunicação que circulava na Alemanha.
Quando a Alemanha invadiu Polônia em 01 de setembro de 1939, ocasionando o início da Segunda Guerra Mundial, as políticas antissemitas evoluíram para o encarceramento e até assassinato dos judeus europeus. Inicialmente, os nazistas estabeleceram guetos, que eram áreas totalmente fechadas, destinadas a controlar os judeus nas regiões denominadas de General Gouvernement, o território conquistado à Polônia no centro e leste daquele país, administrado por um governo civil alemão.
Judeus poloneses e de países na Europa ocidental foram deportados para os guetos, onde viviam em condições higiênicas precárias, superlotação, e alimentação inadequada. Após o dia 22 de junho de 1941, data em que a Alemanha iniciou a “Operação Barbarossa” invadindo a URSS, as SS (Schutzstaffel), – organização paramilitar ligada ao partido nazista e grupos policiais que agiam como unidades móveis de extermínio – iniciaram fuzilamentos em comunidades judaicas naquela área, matando indiscriminadamente todos os seus membros.
No outono de 1941, os nazistas colocaram em funcionamento câmaras de gás móveis, nas quais o cano de escapamento dos caminhões utilizados havia sido reajustado para liberar um gás letal, o monóxido de carbono, dentro dos compartimentos totalmente vedados na carroceria, matando a quem ali estivesse. Isto em complementação às operações de fuzilamento realizadas nas florestas.
Em 17 de julho de 1941, quatro semanas após a invasão alemã à URSS, Hitler delegou a Heinrich Himmler, a responsabilidade para cuidar dos assuntos de segurança na Rússia ocupada. O Führer ainda conferiu ao Reichsführer das Schutzstaffel, poderes máximos para eliminar fisicamente toda e qualquer ameaça ao domínio alemão.
Duas semanas depois, em 31 de julho de 1941, Hermann Goering autorizou ao General das SS, Reinhard Heydrich, o início dos preparativos para aplicação da “Endlösung der Judenfrage”. Esta expressão aparece em uma carta do general das SS, Reinhard Heydrich ao diplomata Martin Franz Julius Luther, do Ministério do Exterior do Reich. Na carta, Heydrich solicitava a participação ativa do Ministério na execução da “solução final para a questão judaica”, ou seja, remover judeus dos territórios ocupados pela Alemanha, conforme fora decidido pela cúpula nazista. Anexa à carta uma ata da Conferência de Wannsee, (encontro de nazistas realizado numa mansão próxima de Berlim e atualmente museu) na qual se informava abertamente que Heydrich e Eichmann seriam os responsáveis pelo cumprimento daquela decisão.
No outono de 1941 Himmler designou o general alemão Odilo Globocnik (SS e chefe da polícia do distrito de Lublin) para colocar em prática o plano de eliminação dos judeus que viviam sob o General Gouvernement. O nome escolhido para aquele maquiavélico plano de ação foi “Operação Reinhard”, em homenagem a Reinhard Heydrich. Este Ministro de Segurança do Reich, conhecido como o “Açougueiro de Praga”, seria depois assassinado dentro de seu veículo por partisanos tchecos na “Operação Antropoide” em 4 de junho de 1942.
Reinhard Heydrich foi sepultado no Cemitério dos Inválidos em Berlim com honras militares. Depois que os Aliados venceram a guerra, ocupando a capital alemã, em 1945, todas as marcações de sepulturas de líderes nazistas, inclusive a de Heydrich, foram removidas para impedir que os locais fossem usados como pontos de encontro de simpatizantes nazistas.
Além de Auschwitz, Majdanek e Chelmno, mais três campos de extermínio – Belzec, Sobibor e Treblinka – foram criados na Polônia com o objetivo único de facilitar o extermínio em massa. De tempos em tempos, Majdanek também servia como local de extermínio de judeus residentes na área do General Gouvernement. Nele existiam câmaras de gás que as SS usaram para assassinar dezenas de milhares de judeus que haviam sido trabalhadores escravos, mas que agora estavam fracos demais para exercer qualquer tipo de atividade. As câmaras de gás e os crematórios de Majdanek podem ser visitados atualmente por turistas.
No centro de extermínio de Chelmno, a 50 quilômetros da cidade de Lodz, as SS em conjunto com a polícia mataram pelo menos 152.000 pessoas, sendo a maioria composta de judeus; além de milhares de ciganos do grupo romas. Na primavera de 1942, Himmler determinou que Auschwitz II (Auschwitz-Birkenau) tornar-se-ia uma “fábrica” de extermínio em grande escala, e lá cerca de um milhão de judeus, de diversos países da Europa, foram assassinados.
O objetivo da “endlösung” era exclusivamente o de exterminar todos os judeus da Europa. Assim, nos campos de extermínio, as SS juntamente com a polícia alemã mataram de forma criminosa uns 2.700.000 judeus, utilizando mecanismos de asfixia por gás venenoso ou por fuzilamento, e 3.300.000 de judeus morreram devido às atrocidades cometidas contra eles pelos alemães e seus colaboradores, por fome, maus-tratos, espancamento, frio, doenças, experiências médicas e outras formas de crueldade inimagináveis.
No total, seis milhões de judeus, homens, mulheres e crianças foram assassinados covardemente pelos nazistas durante o Holocausto, em média 2/3 dos judeus que habitavam a Europa antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial. Em números isto representa 6 dos 18 milhões de judeus que viviam no velho continente.
A preservação da memória destas vítimas da Shoá é hoje, uma das mais significativas metas dos museus e memoriais, espalhados pelos quatro cantos do mundo.