Em rápida entrevista, o Prof. Reuven Faingold, historiador e diretor educacional do “Memorial do Holocausto” em São Paulo, explica os motivos pelos quais é essencial relembrar o que aconteceu com os judeus e outras minorias durante a 2ª Guerra Mundial. Segundo ele, é fundamental perpetuar a memória, portanto o slogan deverá ser sempre: “Holocausto nunca mais”.
Pergunta: Poderia explicar o que é o “Dia Internacional do Holocausto”? Quando começou?
Prof. Faingold: O “Dia Internacional da Lembrança do Holocausto” acontece em 27 de janeiro. É uma data de recordação das vítimas do Holocausto do povo judeu, o maior genocídio de um contingente humano cometido pelo nazismo. Este acontecimento se alongou por espaço de 12 anos (1933-1945) e ceifou a vida de milhões de pessoas durante a 2a Guerra Mundial. Em 01 de novembro de 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas destacava o 60º aniversário da libertação do campo de extermínio nazista Auschwitz-Birkenau. Portanto, a resolução No. 60/7 da ONU marca a libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas em 27 de janeiro de 1945.
Pergunta: Como é lembrado esse dia no mundo e no Brasil? Existem lugares específicos para realizar atos públicos?
Prof. Faingold: Naturalmente, há lugares no mundo em que esta data é programada com atos e solenidades. É o caso dos países que participaram no conflito, e aqui citarei como exemplos a Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e outros países. Mas, importante registrar que o Estado de Israel e comunidades judaicas da diáspora realizam atos em data diferente, geralmente no mês de abril ou início de maio, respeitando-se a data hebraica que assinala a revolta do gueto de Varsóvia. Em relação ao Brasil confesso que temos um sério problema de calendário, pois em 27 de janeiro boa parte da população encontra-se ainda de férias, ficando difícil programar qualquer ato, principalmente em escolas estaduais, privadas ou instituições universitárias.
Pergunta: Hoje a cidade de São Paulo conta com seu próprio “Memorial do Holocausto”. Como ele está organizado sob o ponto de vista histórico e educacional?
Prof. Faingold: O “Memorial do Holocausto” contou com a curadoria de Luiz Rampazzo. O museu é didático e está estruturado por estações. As duas primeiras estações tratam conceitos como “Genocídio” e “Holocausto”, e nos permitem refletir sob a importância da propaganda antissemita elaborada pelo Nazismo. Já a terceira estação nos leva ao “período de boicote” (1933-1939) imposto aos judeus pelo 3º Reich, ilustrado com dois acontecimentos marcantes: a “Queima Pública de Livros” (10/05/1933) e a fatídica “Kristallnacht” (10 /11/1938). Já a quarta estação foca a vida nos guetos, com imagens do mais famoso, o gueto de Varsóvia. O confisco de obras de arte está presente na quinta estação, surgindo um espaço com telas famosas, dentre elas a “Dama Dourada” de Gustav Klimt. A sexta estação é uma sala para poder sentir em carne própria a deportação dos guetos aos campos de concentração e extermínio. Uma locomotiva emitindo som e vapor e várias fotografias digitalizadas projetadas numa tela; ajudam a captar o penoso processo de “seleção” que atravessava o prisioneiro. Judeus eram “descaracterizados”, mas antes disso, crianças e pessoas idosas (inúteis para o trabalho) eram encaminhadas às câmaras de gás e fornos crematórios. A instalação de uma barraca de prisioneiros compõe a sétima estação. Ao entrar no recinto é possível experimentar a sensação vivida pelos deportados. Fortes imagens do campo de Buchenwald testemunham a vida sofrida nas barracas. Finalmente, o visitante poderá assistir curtos documentários da 2ª Guerra, filmados tanto pelos nazistas como pelos aliados. Observamos pessoas em estado de inanição, bombardeios, a entrada nos vagões de carga e, naturalmente, a despedida final de mães e filhos.
PERGUNTA: Então…, qual deverá ser o objetivo principal deste ”Memorial”?
Prof. Faingold: Há cinco anos inauguramos o Memorial da Imigração Judaica, exatamente no mesmo lugar onde foi fundada em 1912 a primeira sinagoga do Estado de São Paulo. Durante este período organizamos visitas monitoradas para alunos, criando um projeto pedagógico de excelência, que desvenda a contribuição dos judeus na construção do Brasil. Aos três andares expositivos incorporou-se em 2017 um 4º pavimento de 220m2 que despertou forte interesse nos visitantes: o Memorial do Holocausto. Este andar quer sensibilizar acerca do assassinato de 6.000.000 de judeus; lembrando ainda outros grupos que sofreram o ódio e a intolerância impostos pelo Terceiro Reich. A política hostil da Alemanha com as minorias é um episódio lamentável, que deve ser lembrado como um fenômeno único nos anais da Humanidade. A nossa meta é convidar visitantes a conhecer o “Memorial do Holocausto”; afinal é quase uma obrigação educar as gerações futuras para o amor fraterno e a tolerância. Somente assim, poderemos sonhar com um mundo melhor.
Pergunta: Como proceder para poder visitar o “Memorial do Holocausto”? Qual o endereço do museu?
Prof. Faingold: Qualquer pessoa interessada pode entrar no site MEMORIAL DO HOLOCAUSTO (www.memorialdoholocausto.org.br) e agendar sua visita. Semanalmente, há visitas guiadas para grupos escolares, ONG´s, universidades e instituições em geral. Também abrimos dois domingos por mês. Desta forma todos os visitantes poderão marcar sua visita monitorada que recomendo muito, pois é bastante esclarecedora. A entrada é gratuita e nosso endereço é Rua da Graça 160, no bairro do Bom Retiro, das 10:00 -17:00h. Metrô: Estação Luz (linha amarela).
Em 2021, uma vez encerrada a pandemia COVID-19, pretendemos retomar as nossas visitas guiadas, uma verdadeira necessidade em tempos difíceis de intolerância e preconceito.