(CIP possui quadro de Isaac Aboab da Fonseca. RESENHA JUDAICA. Diálogo Nacional. 1ª quinzena de julho de 1994).
No Rabinato da CIP encontra-se um belíssimo quadro do artista espanhol José Maria Baños Molina com o portrait de Isaac Aboab da Fonseca, o primeiro rabino do Novo Mundo. Devo admitir que a reprodução do quadro em questão, além de bem feita, está realmente próxima do retrato original pintado pelo artista holandês Aernout Nagtegaal em 1686, quando o rabino já tinha completado seus 81 anos de idade.
O rabino Isaac Aboab da Fonseca era filho de uma família de cristãos novos, nasceu na vila de Castro d´Ayre, distrito de Viseu, Beira Alta, Portugal, em 1605. Seu antigo nome era Simão da Fonseca. Junto com seu pai, Álvaro da Fonseca, (aliás David Aboab); o jovem Isaac foi levado à cidade de Saint Jean de Luz, na França. Logo seguiu para Amsterdã, onde fez seus primeiros estudos em Judaísmo. Nesta última cidade foi instruído pelo célebre rabino Isaac Uziel.
Com apenas 21 anos foi ordenado chacham (sábio) da Congregação Beit Israel de Amsterdã. Em 1639, as três congregações sefaraditas de Amsterdã se unificaram e Isaac Aboab foi nomeado para o cargo de assistente principal do erudito rabino Shaul Levi Mortera.
A chegada de Isaac Aboab da Fonseca ao Brasil ocorreu em 1641, ancorando na cidade de Recife. Com 36 anos, o rabino Isaac chega à América para organizar e dirigir por um período de 13 anos a primeira comunidade judaica no Novo Mundo.
O primeiro texto em hebraico escrito pelo rabino Aboab no Brasil foi uma narrativa em forma de hino denominada “Zecher Aziti Le-Niflait El” (Em Memória das Maravilhas de Deus). É uma composição na qual o autor louva os atos do Deus de Israel para com seu povo.
Isaac Aboab da Fonseca escreveu também uma gramática hebraica “Melechet Há-Dikduk” (Arte da Gramática), ainda conservada em manuscrito; como também um “Tratado de 13 Artigos da fé” de difícil leitura.
Após a vitória dos portugueses sobre os holandeses em 1654, o rabino Isaac Aboab da Fonseca e outros judeus sefaraditas, retornaram para a “Jerusalém da Holanda”, como era conhecida naquele tempo a cidade de Amsterdã. O rabino Levi Mortera já tinha falecido quando Isaac foi ordenado rabino-mor da Yeshiva Talmud Torá e membro do Beit Din (tribunal rabínico) nesta metrópole.
Isaac Aboab da Fonseca foi ainda um dos rabinos que assinaram o “cherem” (excomunhão) do filósofo Baruch Spinoza em 1656.
Os sermões pronunciados por Aboab ficaram famosos e foi ele mesmo quem declamou em 1671 o sermão de inauguração da magnífica sinagoga dos judeus portugueses de Amsterdã, aquela que atualmente pode ser visitada na capital holandesa.
Certa vez, o padre Antônio Vieira, contemporâneo de Isaac Aboab da Fonseca, foi perguntado se gostava dos sermões deste rabino, o jesuíta respondeu da seguinte maneira: – “Menasseh (Menasseh Ben Israel) dizia o que sabia, e Aboab sabia o que dizia”.
Isaac Aboab da Fonseca foi um adepto do “Messias de Esmirna”, Shabatai Tzvi, inclusive assinando uma carta de admiração endereçada ao falso messias.
Muito interessado na Cabala, Isaac Aboab da Fonseca traduziu do espanhol ao hebraico as obras “Beit Elohim” (Casa de Deus) e “Shaar Hashamaim” (As Portas do Céu) do conceituado cabalista Abraham Cohen Herrera.
Existem ainda obras de Aboab da Fonseca que não foram publicadas. Dentre elas devemos mencionar uma novela baseada no “Tractatus Kidushim” do Talmud, um breve opúsculo intitulado “Nishmat Chaim” (Alma Viva), no qual aborda dois temas polémicos daquela época: a recompensa e o castigo.
Em 1688, Isaac Aboab da Fonseca escreve na Holanda uma monumental obra de erudição e exegese intitulada “Parafrásis Comentada sobre o Pentateuco”.
Isaac Aboab da Fonseca faleceu no Shabat 27 de Adar de 5443 (1693). O discurso fúnebre in memoriam contém 12 páginas e foi redigido e publicado pelo rabino Salomão de Oliveira sob o título de “Sermão Funeral. As deploráveis memórias do meu reverendo e doutíssimo Senhor Haham Rabi Isaac Aboab. Insigne Theólogo e célebre pregador, cabeça desta Ilustre Naçam e Congregaçã de Talmud Torah. Pregado em Beth Haim, em 28 Adar Anno 5453, Amsterdam”.