A música em Israel: Uma visão histórica

É sabido que frequentadores de concertos em Israel sabem demonstrar seu entusiasmo, uma qualidade apreciada pelos solistas israelenses de grande reputação mundial. A cena musical contemporânea em Israel é extremamente variada e multifacetada. ​​

A música passou a ocupar um lugar de destaque na vida cultural da comunidade judaica da Terra de Israel após a Primeira Guerra Mundial. Entusiastas amadores e um pequeno quadro de músicos experientes fizeram várias tentativas de formar uma orquestra sinfônica, um coral e até mesmo uma companhia de ópera. Em nível profissional, contudo, a música só veio a se tornar atividade relevante na década de 30, quando diversos professores e estudantes de música, compositores, instrumentistas e cantores, bem como milhares de amantes da música, afluíram ao país, fugindo às ameaças do Nazismo na Europa.

A “Orquestra Filarmônica da Palestina” (hoje Orquestra Filarmônica de Israel), foi criada por iniciativa do violinista judeu-polonês Bronislaw Huberman (1882-1947), um ícone na história da música israelense. Em 1936, enquanto acontecia a “Revolta árabe”, a Orquestra apresentou seu primeiro concerto em Tel Aviv sob a batuta do renomado maestro Arturo Toscanini. Assim, a “Orquestra Filarmônica” tornou-se imediatamente um dos pontos altos da vida musical do país. Com o passar dos anos, ela adquiriu a reputação de uma das melhores orquestras do mundo. Pouco depois, era idealizada uma orquestra radiofônica (hoje Orquestra Sinfônica de Jerusalém), cujos concertos eram transmitidos atraindo dezenas de milhares de ouvintes.

Posteriormente, foram lançados outros conjuntos musicais como a “Orquestra de Câmara de Israel”, a “Sinfonieta de Beer Sheva” e orquestras locais sediadas em Haifa, Natanya, Holon, Kfar Saba, Ramat Gan e Rishon Letzion. Também surgiu a “Orquestra dos Kibutzim”, composta exclusivamente por membros das granjas coletivas espalhadas pelo país.

No final da década de 80, a “Nova Ópera de Israel” (Ha-Opera Ha-Israelit Ha-Hadashá) iniciou a montagem de produções de alto nível profissional, renovando o entusiasmo do público pelo gênero, cujo interesse declinou após a dissolução da primeira companhia permanente de ópera, alguns anos antes.

Durante a década de 90, a vida musical do Estado de Israel passou por uma transformação, com a chegada de milhares de imigrantes provenientes do desmembramento da URSS. Entre esses imigrantes havia numerosos músicos profissionais, instrumentistas, professores de música e cantores, cujo impacto pode ser sentido com a criação de novas orquestras sinfônicas e de câmara, assim como de pequenos conjuntos. Estes talentos musicais injetaram vitalidade nas escolas, conservatórios e centros comunitários por todo o país.

A tradição da música de câmara, que também começou no país nos anos 30, incluiu grupos e coros, alguns conhecidos mundialmente, e cuja variedade se ampliou após a imigração da década de 90. Entre os principais grupos citam-se a “Camerata Rehovot”, a “Orquestra de Câmera das Forças Armadas de Israel” (Tizmoret Há-Camerit Shel Tzahal) e a “Camerata Kashtaniot” (Camerata de Cordas) de Ramat Hasharon.

Atualmente, cidades grandes e pequenas mantêm seus corais, e os festivais são inteiramente dedicados à música coral, entre os quais o “Festival de Litúrgica” em Jerusalém, o de “Música Vocal” nas Igrejas de Abu Gosh e o “Festival Zimriá”.

Diversos espetáculos musicais, desde recitais a concertos sinfônicos, apresentando uma ampla variedade de obras clássicas, são realizados tanto em locais históricos, como nos anfiteatros romanos restaurados de Cesarea e Bet Shean, como também nas duas principais salas de concertos, o “Auditório Mann” em Tel Aviv e o “Centro Internacional de Convenções” em Jerusalém.

Outros locais incluem o complexo teatral de Jerusalém, o novo “Centro de Artes Dramáticas e Musicais” de Tel Aviv, o “Museu de Israel” em Jerusalém e o “Museu de Tel Aviv”, assim como centros culturais (Merkazei Tarbut) em cidades e kibutzim espalhados por todo o país.

Entre os eventos musicais de importância mundial realizados em Israel citam-se o “Concurso Internacional de Harpa” e o “Concurso de Piano Artur Rubinstein”. Festivais locais como o do Kibutz Ein Guev e o de música de câmara do Kibutz Kfar Blum atraem audiências entusiastas; e o “Festival de Israel”, com espetáculos de música, teatro e dança apresentados por grupos de todo o mundo; transforma Jerusalém num centro de atração cultural durante três semanas, toda primavera.

A criação de uma música especificamente israelense data de meados da década de 40. Embora as tradições russa e francesa, o romantismo e pós-romantismo alemão e a influência de compositores europeus mais recentes tenham deixado sua marca registrada na composição musical; uma nova expressão que poderíamos denominar “estilo mediterrâneo”, combinando melodias orientais e um misto de preces antigas, vem gradualmente se consolidando.

A primeira geração de compositores israelenses, todos nascidos na Europa, esforçou-se por criar uma nova linguagem musical, após sua imigração ao país. Paul Ben Chaim (1897-1984) utilizava tonalidades aumentadas para conseguir um estilo pós-expressionista, fundindo o velho e o novo, o oriente e o ocidente; o judeu-húngaro Oedon Pártos (1907-1977) considerava a assimilação do folclore autêntico um importante método de composição; o romeno Alexander Uriah Boscovitch (1907-1964) que usava formas de expressão popular no processo de criação das composições; Yossef Tal (1910-2008) tido como o pioneiro da composição eletrônica em Israel; e o músico judeu-russo Mordechai Seter (1916-1994) dedicava-se a integrar melodias e ritmos iemenitas em suas obras.

A segunda geração, cuja maior parte foi direta ou indiretamente constituída de discípulos da primeira, procurou uma expressão musical integrada à língua hebraica, suas consonâncias e entonações, suas relações com a liturgia e tradição judaicas e sua incorporação ao mundo oriental. Por exemplo, os discípulos de Paul Ben Chaim inclui os nomes de Eliahu Inbal, Henri Lazarof, Ben-Zion Orgad, Ami Maayani, Shulamit Ran, Miriam Shatal, Rami Bar-Niv e Noam Sheriff.

O terceiro grupo de compositores, bem mais recente, manifestou o desejo de participar da composição internacional, combater o Holocausto através da música e derrubar as barreiras do preconceito, fundindo tradições orientais e ocidentais e incorporando algumas inovações dos gêneros de música popular.

Os jovens israelenses talentosos geralmente iniciam sua formação frequentando um dos 200 conservatórios existentes no país, ou estudando com algum entre as centenas de professores particulares; muitos adquirem experiência vinculando-se a uma das orquestras juvenis do país.

Em Tel Aviv e Jerusalém são oferecidos ainda estudos avançados por academias de graduação em música e dança. Aulas de alto nível para cantores, instrumentistas e grupos de câmara são frequentemente ministradas por artistas internacionais visitantes, nas academias e no “Centro Musical de Jerusalém”.

A educação e as pesquisas musicais em instituições de ensino superior foram iniciadas no início dos anos 60, quando foi inaugurada a cadeira Artur Rubinstein de Musicologia na Universidade Hebraica de Jerusalém. Desde então, foram aumentando Departamentos de Musicologia nas Universidades de Tel Aviv Bar Ilan e Ben Gurion em Beer Sheva. São oferecidas aos alunos duas principais áreas de especialização: música judaica ou música de grupos étnicos de Israel, com ênfase especial na música das comunidades orientais e sefaraditas.

Os pioneiros trouxeram suas próprias canções, traduzindo as letras originais para o hebraico ou adaptando novas letras em hebraico às melodias conhecidas. Desde então, foram escritas milhares de canções, cujas melodias incorporam elementos e estilos musicais trazidos por levas consecutivas de imigrantes, variando desde a música tradicional árabe e iemenita até o rock e o pop modernos; as letras podem ser textos bíblicos ou tradicionais, ou versos modernos de poetas e letristas israelenses.

Embora seja difícil definir o que é uma canção hebraica típica, os israelenses sabem a diferença entre uma simples canção escrita em hebraico sobre temas universais, e a chamada “Canção Hebraica” (Shir Ivri), cuja letra reflete as vozes, valores e estados de espírito do país, e cujas melodias têm forte influência eslava. Estas últimas músicas, que acompanham os principais acontecimentos históricos da vida nacional judaica durante o último século, registram os sonhos, dores e esperanças da nação. Embora expressando sentimentos universais, como todas as canções populares, elas manifestam também as dores e tristezas dos israelenses, o amor pelo país e o vínculo com suas paisagens. São canções de compositores como Naomi Shemer (1930-2004) que todos conhecem e cantam, tornando-se parte integrante do legado cultural nacional.

Naomi Shemer é considerada a Maior Dama da Música de Israel até hoje, sendo lembrada especialmente pela canção “Yerushalayim Shel Zahav” (1967) e também por “Lu Yehi” (1973), esta última uma adaptação hebraica de “Let It Be”, dos Beatles. Os israelenses adoram cantar suas canções, desde as mais antigas, anteriores ao próprio estabelecimento do Estado, até as mais recentes.

O canto coletivo (Shirá Betzibur) acontece em salas de concerto, nos lares, nos refeitórios dos kibutzim e em centros comunitários, nas caminhadas e em torno das fogueiras; a maioria das vezes sob a orientação de um cantor profissional, acompanhado por piano, acordeão ou violão. A participação em grupos como esses transmite um sentimento de coesão, evoca profundos sentimentos patrióticos e a “saudade” dos tempos pioneiros e da luta heroica pela independência; as lembranças das guerras vencidas e dos amigos perdidos, trazendo de volta momentos de amor e esperança.

Para ilustrar esse importante momento de “Shirá Betzibur” nada melhor que trazer à tona o nome de Yehoram Gaon. Este cantor, ator, diretor, produtor e comediante de TV nascido em Jerusalém em 1939 é ainda hoje uma figura pública muito querida e respeitada.

A cena musical contemporânea em Israel é variada e audaciosa. A banda de Hip Hop “Hadag Naás”, por exemplo, usa a música para mostrar o cinismo político. Um de seus hits mais famosos é “Shirat Hasticker” (The Sticker Song), escrita em conjunto com o romancista israelense David Grossman. A letra desta canção é uma combinação de slogans que pode ser vista em adesivos israelenses. Os slogans políticos opostos são justapostos para criar um retrato furioso, irônico e muitas vezes absurdo da vida israelense.

Conjuntos, tais como o “Projeto Idan Reichal” ganhou fama ao fundir a herança musical da Etiópia com o Médio Oriente, seu espírito e influências litúrgicas. Bandas de música eletrônica e rock como Teapacks, Mashina e Hasechel Knisiyat, e os renomados artistas Ehud Banai, David Broza, Yehuda Poliker, Shelomo Artzi, Shalom Hanoch, Achinoam Nini (Noa) e Sarid Hadad são veteranos artistas no cenário musical, mas todos têm mantido em alta sua popularidade.

Muitos dos recém-chegados à cena da música pop israelense surgiram através do programa de TV “Kokhav Nolad” (A Star Is Born), a resposta de Israel ao programa “American Idol” dos EUA. O popular programa conduzido por Tzvika Hadar teve 10 temporadas e impulsou as carreiras de Ninet Tayeb, Harel Moyal e Yehuda Saadão. Os novos talentos vencedores dos anos 2002-2012 foram os seguintes:

2003 – Ninet Tayeb

2004 – Harel Moyal

2005 – Yehuda Saadão

2006 – Yacó Eisenberg

2007 – Boaz Maauda

2008 – Israel Bar On

2009 – Roni Dalumi

2010 – Diana Golbi

2011 – Hagit Yaso

2012 – Or Taragan

“Kokhav Nolad” foi substituído por outro reality show denominado “Ha-Kokhav Ha-Ba”, um programa de TV que teve até o ano 2021 oito temporadas consecutivas. Os 8 vencedores desta competição musical foram:

2013 – Evyatar Korkus

2014 – Nadav Guedj

2015 – Hovi Star

2016 – Imri Ziv

2017 – Netta Barzilay (Vencedora da 63º Eurovision 2018).

2018 – Kobi Marimi

2019 – Eden Alene (Esta jovem etíope não participou da Eurovision 2020, pois este evento foi cancelado por motivo da Pandemia Covid-19. Ela representou Israel na competição em 2021 chegando à final).

2021 – Tamir Grinberg

O pequeno Estado de Israel não para de revelar seus jovens talentos como também de criar e recriar novas melodias. Sem dúvida alguma, a extensa produção artística coloca o Estado judeu no ranking dos os países mais importantes do mundo no âmbito da música erudita e popular.

Bibliografia

Cultura: Música. Embaixada de Israel no Brasil. Ver: https://embassies.gov.il/brasilia/AboutIsrael/Culture/Pages/CULTURA-Musica.aspx

Elbelman, A., De Izhar Cohen a Netta Barzilay: Os maiores sucessos da música Pop israelense. Ver: https://rosenhebrewschool.com/pt/blog/de-izhar-cohen-a-netta-barizlay-os-maiores-sucessos-da-musica-pop-israelense/

Ha-Kokhav Ha-Ba. Ver: https://en.wikipedia.org/wiki/Rising_Star_(Israeli_TV_series)

Kokhav Nolad. Ver: https://en.wikipedia.org/wiki/Kokhav_Nolad

Naomi Shemer. Jewish Virtual Library. https://www.jewishvirtuallibrary.org/naomi-shemer

Regev, Motti & Seroussi, Edwin, Popular Music and National Culture in Israel. The University of California Press 2011.

Sagui Ben-Nun & Gidi Avivi, Naomi Shemer: First Lady of Israeli Song. June 27, 2004. Ver: https://www.haaretz.com/2004-06-27/ty-article/naomi-shemer-first-lady-of-israeli-song/0000017f-e12f-df7c-a5ff-e37fd62a0000

Yehoram Gaon – Personal Profile. Wayback Machine Hompage.   https://web.archive.org/web/20110108143924/http://www.yehoramgaon- official.com/biography.htm