Martin Greenfield é o sobrevivente do Holocausto número A 4406. Nascido em Pavlov, vilarejo tcheco, este judeu vivenciou os horrores do Nazismo. Segundo ele, isto aconteceu no segundo dia de Pessach de 1944, quando os nazistas cercaram Pavlov e deram aos judeus o prazo de uma hora para fazer suas malas, antes de serem enviados a Auschwitz. Já no campo, esteve frente ao Dr. Josef Mengele, que determinou ele ser selecionado para o trabalho, enquanto toda sua família seguiria rumo às câmaras de gás. Greenfield perdeu pais, avôs, um irmão e duas irmãs.
Seu pai, engenheiro, disse ao filho em Auschwitz: “Precisamos nos separar. Você é jovem e forte. Vai sobreviver por sua conta. Você tem de viver para nos honrar”. Trabalhando na lavandaria de Auschwitz, aprendeu a costurar com prisioneiros mais velhos. Na autobiografia “Measure of a Man: From Auschwitz Survivor to Presidents´ Tailor” (2014), Greenfield relata o abuso físico, psicológico e emocional que sofreu sob o Nazismo.
Depois de meses aprisionado foi trasladado de Auschwitz I para Auschwitz III ou Buna, já que o campo principal foi bombardeado pelos americanos em dezembro de 1944. Na ocasião, os nazistas obrigaram 10.000 prisioneiros a desocupar o lugar, recolocando-os no subcampo de Gleiwitz, fundado por eles em março de 1944. De lá foi transportado até Buchenwald, onde permaneceu até acabar a guerra.
Encerrada a 2ª Guerra, Greenfield ambulou pela Europa procurando, sem êxito, sua família. Em 1947, ajudado por parentes abastados, embarcou aos EUA para iniciar uma nova vida. Junto a outro imigrante judeu, achou trabalho em uma prestigiosa empresa de roupa que fabricava peças para clientes de tamanhos especiais (GGG) em Brooklyn. O proprietário era William P. Goldman, quem ensinou Martin Greenfield os secretos da confecção.
Martim foi crescendo no negócio de Goldman, até que em 1977, (com experiência de 30 anos na empresa), decidiu comprar a fábrica da família Goldman. Mudou o nome da firma para “Martin Greenfield Clothiers” (Roupas Martin Greenfield), atendendo uma clientela muito seleta e exigente. Todo terno costurado à mão é produto de muitas mãos. O alfaiate judeu emprega 120 imigrantes. “Temos as melhores pessoas do mundo todo… eu não seria nada sem eles”, afirma Greenfield.
Nas memórias Greenfield confessa que o sucesso do negócio reside na qualidade da matéria prima utilizada para confeccionar os ternos. Ele afirma: “Me neguei a fazer concessões e decidi que somente usaríamos materiais e métodos da mais alta qualidade”. Sua renomada empresa confecciona uns 15.000 ternos por ano, pagando seus clientes até U$S 2.000 por peça. Desta forma, seu faturamento, atinge aproximadamente 30 milhões de dólares por ano.
Em 1952 Greenfield teve a oportunidade de conhecer o presidente Dwight D. Eisenhower, com quem sentiu forte empatia, chegando inclusive a deixar bilhetes com conselhos de política externa nos bolsos dos ternos. “Não existe lugar como os Estados Unidos”, afirma Martin Greenfield. Seus filhos Jay e Tod dirigem atualmente o negócio.
Diferente de Harry Pendel, personagem da novela de John Le Carré, “O alfaiate de Panamá”; Martin Greenfield é um alfaiate cinco estrelas. Greenfield é um homem discreto que mede suas palavras. Sua alfaiataria de Brooklyn veste celebridades como Paul Newman, Frank Sinatra, Michell Jackson, os jogadores de basquete Patrick Ewing e Shaquille O’Neal, Leonardo Di Caprio, Al Pacino, Jimmy Fallon ou Johnny Depp. Assíduo cliente, Bill Clinton aprendeu com ele a usar trajes formais.
Ao falecer George de Paris, o alfaiate oficial da Casa Branca em 2015; Barack Obama solicitou a Greenfield tomar as medidas de seus ternos. O presidente lhe enviou um par deles para que tomasse suas medidas, porém o alfaiate se negou terminantemente declarando: “Martin Greenfield não copia ternos de ninguém”, exigindo que o presidente americano o recebesse na residência governamental para tomar pessoalmente as medidas. Obama concordou e naquele encontro o presidente lhe mostrou um terno italiano com a tela que gostaria para sua nova peça de vestir. Aí, tudo ficou mais fácil e Greenfield revelou que “o corpo do presidente é como o de um manequim”, e isto facilita sua tarefa.
Em 2015 vestiu trajes acadêmicos recebendo o doutorado honorário da Yeshiva University de Nova Iorque. Na ocasião, o reitor Richard Joel compartilhou um trecho da autobiografia de Greenfield, “Measure of a Man”: “Todas as pessoas são perfeitas. Elas têm de fazer um terno que as ajude a acreditar que podem realizar seus sonhos”.
Martin Greenfield fez ternos para o presidente Donald Trump. Agora vai esperar para ver se receberá uma ligação do próximo ocupante da Casa Branca. “É uma grande honra vestir presidentes”, explica com orgulho Greenfield. “Faço todo mundo ter boa aparência com a roupa”.
Michael Bloomberg, o biógrafo de Greenfield, fala dele com admiração: “Estamos diante de um homem que lutou muito para sobreviver durante os piores momentos da Humanidade, chegou à Nova Iorque sem nada, trabalhou duro e prosperou” sendo hoje considerado o melhor alfaiate masculino dos Estados Unidos.
“A roupa faz o homem”, escreveu William Shakespeare em Hamlet. Ela certamente fez o mestre alfaiate Martin Greenfield. Aos 88 anos ainda trabalha seis dias por semana em sua confecção, quando não dedica parte de seu tempo a ministrar palestras inspiradoras ou a participar de atividades comunitárias.