O protótipo de “bebê ariano” apresentado na capa da revista de propaganda nazista “Sonnie ins Hous” em 1935 era, na verdade, judeu. A revelação foi feita pela própria pessoa na foto, Hessy Taft. A mulher doou uma cópia da revista ao Museu do Holocausto de Yad Vashem em Jerusalém como parte da campanha “Recolhendo Fragmentos”, lançada em 2011, estimulando pessoas a doarem materiais ligados ao Holocausto.
Hessy Taft, cujo sobrenome de solteira era Levinson, nasceu em Berlim em 1934. Era filha de judeus oriundos da Letônia. A maioria de seus familiares eram músicos e haviam chegado à Alemanha durante a República de Weimar para trabalharem como cantores de ópera. Em recente depoimento, Taft contou que o contrato de seu pai foi cancelado assim que suas origens judaicas foram descobertas.
Em 1935, ano da publicação das “Leis de Proteção e Pureza do Sangue Alemão”, (também conhecidas como “Leis de Nuremberg”), a mãe de Hessy e uma tia levaram a menina para ser fotografada pelo renomado fotógrafo Hans Ballin.
Sete meses depois, para surpresa da família, a empregada dos Levinson disse ter visto a foto da pequena Hessy na capa da revista “Sonnie ins Hous” (Raio de sol em casa). Esta fotografia havia sido escolhida em concurso promovido pelo Departamento de Propaganda Nazista, chefiado por Joseph Goebbels. A melhor entre cem imagens clicadas pelos fotógrafos alemães representaria o “bebê alemão ariano ideal” e seria capa da revista.
Sem que a família Levinson soubesse, Ballin submeteu a foto de Hessy e de outros dez bebês. A ironia de a fotografia trazer um bebê judeu foi motivo de piada durante muito tempo na família. A foto da menina também foi redistribuída em cartões postais em todo o país e até na Lituânia. Quando perguntada o que diria para o fotógrafo hoje, Hessy respondeu: “Eu diria: Que bom que você teve coragem”.
Após fugir da Alemanha para Paris, a família escapou da ocupação nazista da França, migrando para Espanha e Portugal e finalmente de navio para Cuba. Em 1949, os Levinson se estabelecem nos EUA, lá Hessy formou-se em química na Universidade Columbia, casando em 1959 com Earl Taft.
O casal tem dois filhos e quatro netos. Ela ainda leciona química na Universidade de St. John’s. Apesar de sua família próxima ter sobrevivido à Shoá, vários parentes morreram nos campos nazistas.