No final do século 19, a França ficou convulsionada pelo “Affaire Dreyfus”. Um oficial judeu do Estado Maior, Alfred Dreyfus, havia sido condenado por alta traição. O “Affaire” dilacera a opinião pública, dividida entre os dreyfusards, que defendiam sua inocência, e os antidreyfusards, que acreditavam em sua culpa. intelectuais, escritores e artistas franceses também se posicionaram. E um dos mais ferrenhos antidreyfusards foi Edgar Degas.
Edição 100 – Junho de 2018
Pano de fundo do Caso Dreyfus
O caso Dreyfus ocorre em uma França derrotada na guerra franco-prussiana (1870-71), que deixou em seu rasto uma forte crise econômica, tensões sociais e confrontos políticos.
Num cenário como esse, são descobertas evidências da existência de um traidor nas fileiras do exército, que pretendia repassar aos alemães informações sobre a artilharia francesa. O traidor precisava ser descoberto e Dreyfus era o “ traidor ideal”. Primeiro judeu a servir no Estado-Maior do Exército, sua presença irritava os oficiais franceses. Pouco importavam a falta de provas e as irregularidades no processo; para as Forças Armadas francesas sua condenação evitaria que um francês cristão fosse apontado “Traidor da Pátria”.
Acusado de espionagem a favor da Alemanha, Dreyfus é sumariamente julgado e condenado à prisão perpétua na famigerada prisão na Ilha do Diabo (na Guiana Francesa). Em janeiro de 1895, após ser submetido a uma humilhante degradação militar, diante de uma multidão que exigia sua imediata execução aos gritos de “Mort aux juifs”, ele é despachado à Ilha do Diabo, onde ficou preso até 1906.
O caso parecia encerrado; ninguém, àquela altura dos acontecimentos, poderia conceber a tormenta que desabaria sobre a França, nos anos seguintes. Não conformada com a condenação, a família de Dreyfus consegue o apoio, a favor de um novo julgamento, de figuras públicas, como os escritores Anatole France e Émile Zola.
Em janeiro de 1898, o momento da virada surgiu com a histórica denúncia de Zola – seu ‘’J’accuse’’, impresso no jornal L’Aurore, que vendeu 300.000 cópias em um único dia.
Famoso escritor, coberto de condecorações, não hesitara em se arriscar a perder tudo, inclusive sua liberdade, por não tolerar a ideia de que um inocente estivesse preso. Em seu célebre manifesto “Eu acuso” Zola expressa sua indignação perante as intrigas preconceituosas que envolveram o caso.
O “Caso Dreyfus” acaba incendiando a opinião pública e dilacera o país, que se divide em dois campos. De um lado estavam os antidreyfusards que culpavam o oficial judeu e opunham-se à reabertura do processo. Do outro, os dreyfusards, partidários da inocência de Dreyfus, denunciavam as irregularidades do julgamento e demandavam uma revisão imediata do processo.
Em 1899, Dreyfus é levado mais uma vez a julgamento, perante um tribunal militar. Apesar das contundentes provas de sua inocência, é condenado mais uma vez, recebendo logo a seguir um indulto. Sua inocência só foi verdadeiramente reconhecida em 1905 e, no ano seguinte, foi reabilitado pelo governo francês.
Intelectuais e artistas se posicionam
Hoje não restam dúvidas de que Dreyfus foi vítima do antissemitismo arraigado na sociedade e Forças Armadas francesas, uma “diabólica conspiração” como a chamou Zola.
Na época, o país estava dividido entre uma direita reacionária, ligada às Forças Armadas e à Igreja Católica; e, de outro lado os republicanos liberais e as forças de esquerda. Verifica-se um considerável aumento nas publicações antissemitas, com frequência acusando os judeus, aberta e causticamente, de “trabalhar contra os interesses da França e arquitetar sua destruição”.
Se a França estava dividida, também o estavam seus artistas. O mundo das Artes passava por um período de grandes mudanças e Edgar Degas foi um de seus mais aguerridos protagonistas. Conhecido hoje como “o pintor das bailarinas”, Degas além de um exímio pintor foi gravurista, escultor e fotógrafo. Em 1873, juntamente com Claude Monet, Camille Pissarro e Paul Cézanne, forma a Sociedade Anônima dos Artistas, que abriu sua primeira exposição impressionista em Paris.
Degas foi logo apontado pela crítica como o líder do novo grupo, que mais tarde seria conhecido como “os Impressionistas”. Eles propunham uma nova maneira de pintar, em que o movimento e a luz eram os elementos mais importantes. Apesar de ser classificado de “impressionista”, Degas gostava de se autodenominar “realista”. À exceção do grande escultor Auguste Rodin, que insistiu em se manter neutro, praticamente todos os artistas, famosos ou não, adotaram uma posição no caso Dreyfus. Ou eram a favor ou contra o oficial judeu.
Os pintores Claude Monet e Jacob Camille Pissarro, amigos de Zola, estavam entre os dreyfusards. Monet não hesitara em escrever uma carta a Zola, cumprimentando-o por sua coragem em defender o oficial judeu, e assinou uma petição em defesa de Dreyfus. Pissarro redigiu também uma missiva cumprimentando Zola por acusar abertamente a República Francesa de estar cometendo uma injustiça. Também acreditavam em sua inocência os artistas Paul Signac (1863-1935), Louis Vuitton (1821-1892) e Mary Cassatt (1844-1926). Das fileiras antidreyfsards, além de Degas faziam parte Paul Cézanne e Pierre-Auguste Renoir.
Apesar deste último manter grande amizade com as famílias judias Natanson e Cahen d’Anvers, sua atitude em relação aos judeus sempre foi hostil. Ele chegou a afirmar que “… não em vão os judeus são expulsos dos países”, e que “… na França lhes deveria ser vedado desempenhar cargos públicos”. Renoir afastou-se de Pissarro, acusando-o de que seus filhos não tinham servido ao exército “por não sentirem nenhum tipo de patriotismo com a França”. Em 1882, Renoir negou-se a expor junto a este último, declarando publicamente que “… expor ao lado de um judeu é gerar uma revolução”.
Mas, dos artistas impressionistas nenhum foi tão crítico e duro com Dreyfus como Edgar Degas. Certa vez, uma modelo que posava em seu ateliê, questionou a forma como a França lidava com Dreyfus. Enfurecido, Degas retrucou: “Com certeza, você também deve ser judia”, fazendo-a retirar-se imediatamente do estúdio.
Apesar de ter sido um grande admirador de Degas, Pissarro chamou-o de “antissemita selvagem”, em carta dirigida a seu filho Lucien. Certa vez, comentou com o pintor Paul Signac, que “Degas e Renoir se haviam distanciado dele desde os trágicos acontecimentos de 1894”, fazendo uma clara referência ao caso Dreyfus. Degas passou a criticar Pissarro duramente, argumentando que “… sua arte é desprezível”. Quando soube que Pissarro o admirava, mais que a qualquer outro artista, chegando a afirmar que “Ele (Degas) é, sem dúvida, o maior artista desta época”, Degas se justificou: “Sim, mas isso foi antes do Affaire Dreyfus”. Fica evidente que, na França do século 19, política e arte se retroalimentavam.
Degas pré-Dreyfus
Hoje, críticos de arte e historiadores acreditam que o Caso Dreyfus trouxe à tona o até então velado antissemitismo de Degas.
No século 19, artistas e amantes das artes buscavam a companhia dos artistas e intelectuais judeus; e Edgar Degas não foi exceção. Antes de eclodir o Affaire, ele mantinha uma aparente postura favorável aos judeus. Como vimos acima, ele mantinha relações profissionais com Pissarro, organizando com ele exposições de arte. Sabe-se que ele foi um dos primeiros artistas impressionistas a comprar quadros de Pissarro. Frequentava, inclusive, um círculo de artistas judeus composto por Ludovic Halévy e seu filho Daniel, Geneviève Halévy (cônjuge de Georges Bizet) e um dos advogados dos Rotschilds, que administrava um Salon parisiense. No grupo de Halévy havia outros judeus, como o compositor de óperas Ernest Reyer (1823-1909), o marchand Charles Ephrussi (1849-1905) e Charles Hess. Este último inspirou o personagem Swann, de Marcel Proust, na obra “Em Busca do Tempo Perdido”.
Ademais, Degas retratou dezenas de amigos judeus: Ernest May, Émile Levi (1826-1890), o judeu-português Monsieur Brandão, pai do pintor Édouard Brandão (1831-1897), e o artista Henri Michel Levi (1844-1911), que retratou Degas, entre outros.
O viés antissemita contra seus compatriotas judeus começa a ser visível, com seu quadro o “Retrato do Rabino Eli Aristide Astruc e o General Émile Mellinet” (V. página anterior). A tela, uma das obras mais admiradas do artista, foi pintada 23 anos antes do “Affaire Dreyfus”. Astruc, uma autoridade em História Judaica, foi rabino na Bélgica, enquanto Mellinet foi um militar republicano, anticlerical e maçom, que ajudou Astruc a socorrer feridos durante a revolta da Comuna de Paris, em 1871. Ambos procuraram Degas para serem retratados. As opiniões de Degas podem ser vistas no resultado de seus portraits: na tela, o rabino Astruc aparece menos forte, menos confiante e menos importante. Ele está tentando encontrar um lugar na própria composição. A mensagem talvez seja demostrar a superioridade do Estado diante da religião.
Em 1878, o pintor termina o óleo a “A Bolsa”. À primeira vista, o quadro não retrata judeus, apenas faz um retrato social da modernidade. Mas, Degas retrata o banqueiro e marchand judeu, Ernest May, postado nas escadarias da Bolsa de Valores, junto a Monsieur Boulatré. O quadro não apresenta o tipo de caricatura antissemita utilizada na época, na França. Os recursos antissemitas utilizados são mais velados. Reparamos certa semelhança com “Amigos do Teatro” (1879),talvez pelas vestimentas pretas, os movimentos, traços físicos dos personagens e até pelas cores da coluna. Se olharmos a posição em que foram retratados os personagens, movimentando suas mãos e se falando em voz baixa, ao pé do ouvido, revela-se um complô, um momento em que figuras enigmáticas com sobretudos e cartolas planejam dar um golpe mortal na sociedade francesa. Degas retrata May com um judeu de nariz adunco, com olhos saltados e lábio protuberantes – “marca artística do status judaico de estrangeiro. A cena incorpora a realidade da hegemonia financeira judaica, bem conhecida por Degas, com a emergência dos Rothschild como força econômica na França e em toda a Europa.
Para alguns críticos de arte, como Louis E. Duranty (1833-1880), no óleo, Degas retrata o mito do “complô financeiro judaico” fortemente arraigado nas sociedades europeias dos séculos 18-19. O objetivo desse suposto complô judaico era “dominar” a economia das nações. Este suposto complô surge do retrato preservado daquilo que “eles” (judeus) guardam em total sigilo de “nós” (franceses). É uma imagem que revela velado antissemitismo.
A Amizade Degas e Halévy
Degas frequentou a casa da família Halévy. Uma carta encontrada nos “Archives Israélites” revela que ele era presença constante nos almoços dessa família. Seus membros foram retratados várias vezes e assim os Halévy viraram o centro das atenções do artista, a ponto de um deles, Daniel Halévy, afirmar num “Diário”: “Nós o criamos”, referindo-se ao pintor.
Retratos dos membros da família Halévy, pintados por Degas, foram encontrados numa “Caderneta de Desenhos”. Num deles, Ludovic escreve: “Degas desenhou, em minha casa, todos os retratos que fazem parte desta coleção”. O próprio Ludovic e seu filho Daniel foram pintados por Degas no quadro “Seis amigos em Diepp” (1885).
O ressentimento do artista com o “aumento do poder judaico na França” fica mais evidente em sua pintura de 1879, “Portrait of Friends in the Wings”. Na obra ele retrata Ludovic Halevy, judeu autor de libretos para óperas, conversando nos bastidores da ópera com Albert Boulanger-Cave, rico patrono das artes não-judeu. Na tela fica evidente o destaque que Degas dá à discrepância entre a aparência de Halevy e o ambiente. Baseando-se nitidamente na opinião francesa de que “os judeus não estavam em seu ambiente, na França, e sugavam a vida do país”, Degas criou um portrait em que Ludovic Halevy estava completamente deslocado na vida pública francesa, assim como ali, na ópera francesa.Em contraste com o pano de fundo brilhante e colorido, Halevy aparece em seu próprio plano sombrio, sua expressão abatida em desacordo com o restante da pintura, sua presença anuviando a cena alegre. Degas usou o estado de ânimo abatido de Halevy, e o completou com os traços estereotipados do judeu, com nariz adunco e barba, para demonstrar que Halevy, “o judeu”, era um estranho no ninho cultural da vida francesa.
Ludovic Halévy nasceu em Paris (1834-1908), época em que a literatura francesa estava influenciada pelo romantismo. Filho de escritor, Ludovic vivia em um ambiente propício para as letras. Ainda jovem, escreveu novelas em que fazia duras críticas à sociedade parisiense. Aos 31 anos, abandonou seu trabalho na administração pública para se dedicar à literatura.
Em 1868, ele publica os contos “A Família Cardinal”. Seus textos ironizam os costumes da sociedade parisiense durante a Terceira República. Halévy situa seus personagens na Ópera de Paris, retratando-os como cidadãos deslumbrados pelo abastado modo de vida da classe alta, frequência assídua nas galerias de arte, espetáculos de dança e teatro.
Descreve, também, nessa obra, os anseios de uma família pequeno-burguesa, seus limites e tentações, suas posturas políticas, suas perversões e devaneios. A desigualdade de classes emerge em meio à transição, sobrevivendo aos costumes e à vida cotidiana. Halévy narra com ironia teatral as tribulações de uma família classe média parisiense: mãe dominante, pai politizado, membro da Comuna e simpatizante da Terceira República, e duas adolescentes totalmente dedicadas a performances de ballet na Opéra parisiense.
Nos anos 70 do século 19, Degas desenha a série “A Família Cardinal”. É difícil perceber se o imaginário do artista consegue distinguir entre as jovens bailarinas e as dançarinas do famoso Moulin Rouge. Sabemos que esses desenhos não agradaram a Ludovic Halévy e, portanto, não foram incluídos em nenhuma edição até 1938, data em que ambos já tinham falecido. Depois deste incidente, Halévy continua ajudando economicamente o artista.
Mesmo após o início do Caso Dreyfus, Degas pinta membros da família Halévy. Numa tela de 1896, Degas retratou o filósofo e pensador judeu Eli Halévy (1870-1937), filho de Ludovic. Refletindo, sentado num sofá, ele segura o queixo com a mão. Totalmente mergulhada em pensamentos, sua mãe, Madame Louise Halévy, está sentada no mesmo sofá. Na parede, dois quadros de bailarinas completam a composição.
Mas, no outono de 1897, a amizade de anos entre Edgar Degas e Ludovic Halévy é subitamente interrompida. Mesmo sendo judeus assimilados, os Halévy demostravam uma forte preocupação pelo clima de animosidade contra seus correligionários reinante na França, especialmente quando todo o clã defende a inocência de Dreyfus.
No diário pessoal, Daniel Halévy descreve os motivos da ruptura com o artista: “Terça-feira, 25 de novembro de 1897. Nunca havíamos levantado o tema [caso Dreyfus], mas ontem, conversando no fim da tarde, papai estava muito tenso frente à Degas, um destacado antissemita. Foi nossa última conversa cordial. Nossa amizade, surgida ainda na infância, foi cortada repentina e silenciosamente… Degas jantou em casa pela última vez. Não falou nada a noite inteira… seus lábios pareciam lacrados… Mantinha seu olhar sereno, para o alto, como se desejasse desconectar-se dos convidados que o circundavam. Para Degas, Ludovic disse não haver dúvidas de que Dreyfus queria defender o exército, um exército cuja herança respeitava demais, e que agora era ofendida com nossas teorias intelectuais. Degas não abriu a boca e, encerrado o jantar, sumiu de casa para nunca mais voltar”.
Palavras Finais
O nacionalismo exacerbado levou Degas à xenofobia, difundindo ideias preconceituosas. Durante o café da manhã, solicitava a Zoa, sua fiel empregada, que lesse em voz alta as mal-intencionadas charges publicadas na revista “Psst…!”, como também as charges antijudaicas inseridas em “L´Intransigeant”. Será que naquele momento, Degas pensava em seus amigos judeus, entre eles Ludovic Halévy? Que sentiria o impressionista ao ouvir de sua empregada as frases: “Em nome de D’us e da nação francesa, morte aos judeus! ”? Ou “Expulsão à raça dos traidores! ”, ou ainda, “A honra dos franceses diante do ouro judaico!”. Será que Degas se lembraria de Jacob Abraham Camille Pissarro, amigo e parceiro no uso das novas técnicas e um de seus admiradores mais próximos?
Com o pseudônimo de Forain Caran D´Ache, o caricaturista Emmanuel Poiré (1858-1909), satirizava os defensores de Dreyfus no jornal “Psst…!”. Ele era amigo de Henri Rouart (1833-1912) e seus quatro filhos, todos opositores do capitão judeu. Em 1895 Degas tinha 61 anos, e, segundo um de seus biógrafos: “Na casa da Rua Lisboa, residência da família Rouart, Monsieur Degas – sempre na companhia de amigos – sentia-se à vontade para emitir opiniões repletas de ódio, intolerância e fanatismo. Os amigos presentes o festejavam ao ouvir suas ideias alopradas e preconceituosas”.
Era esta a triste realidade da França na 2ª metade do século 19, o denominado “tempo dos Mestres Impressionistas”. Mesmo desconsiderando as telas que se encontram nos grandes museus, os jornais e revistas da época estão repletos de charges antissemitas em relação aos judeus e o judaísmo.
Na charge antissemita reproduzida ao lado, o ilustrador da revista “La Libre Parole” (Palavra Livre), apropriou-se da pintura de Degas, “À la Bourse” (Na Bolsa de Valores), e substituiu os negociantes judeus por traidores “dreyfusards” cujas figuras flácidas simbolizam sua “torpeza moral”. Os “irmãos raciais” (leia-se judeus) e ideológicos de Dreyfus estão distribuindo o folheto “Um erro judiciário”, de Bernard Lazare – texto considerado um verdadeiro anátema pela equipe da “La Libre Parole” e por todos os “antidreyfusards”. O próprio Dreyfus está furtivamente recebendo dinheiro de um personagem não-identificado, uma clara alusão a sua suposta alta traição, a venda de segredos militares franceses à Alemanha.
Edgar Degas, o grande artista francês do século 19, foi um grande antissemita, um xenófobo e misógino, apesar de saber perfeitamente como e quando externar sua racionalidade, sensibilidade e emoção. O artista francês é aquele antissemita definido pelo filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980) como uma figura sólida e rochosa, de duvidosa moral, constituída por “valores rígidos petrificados”, uma personalidade lapidada e sem sentimento.
O ódio que expressa nasce de um Iluminismo forjador de bodes expiatórios. Para o antissemita francês, os judeus não passam de fantasmas que ameaçam consciências frágeis e atormentadas. O judeu possibilita ao artista obter uma representação bizarra, caricaturesca e satirizada. O antissemitismo de Degas não se manifesta na totalidade de sua obra, aflorando com maior intensidade ao retratar o judeu explorador e capitalista. Desenhos antissemitas permeiam sua produção artística.
BIBLIOGRAFIA
Barreto, Luiz Cézar, O Berço da Hidra. Morashá nº 31, dezembro 2000. (www.morasha.com.br).
Drumont, Édouard, La France Juive. 2 vols. Paris 1886.
Nochlin, Linda, Degas and the Dreyfus Affair: The image of an antissemitic artist. In: Norman L. Kleeblatt (Editor), The Dreyfus Affair: Art, Truth & Justice, Tel Aviv 1991, (hebraico), págs. 92-109.
Sartre, J. P., Réflexions sur la Question Juive. Paris 1944.