O trabalho apresentado aqui é, talvez, a única contribuição ao estudo sistemático da influencia que teve o antigo hebraico na língua portuguesa falada atualmente no Brasil. Não há dúvida que a influencia exercida pela língua hebraica no português, tanto na metrópole como na colônia foi strictu sensu de caráter histórica.
Inicialmente, podemos dizer que, desde a suposta chegada dos marujos hebraicos e fenícios ao Brasil pré-histórico (durante os reinados de Salomão e Hiram) por volta do ano de 1000 a.e.c; a partir das conquistas dos romanos na Hispânia; no decorrer do período visigótico e no processo de formação do Condado Portucalense (tempo de configuração da nacionalidade lusitana); a língua portuguesa sofreu sérias transformações semânticas e fonéticas. Foi o próprio momento histórico que, de forma gradual, iria acrescentar termos e palavras ao vocabulário cotidiano da população autóctone nos trópicos.
O forte conflito entre a Inquisição e os “cristãos novos”, (judeus batizados pela força), que durou desde as conversões forçadas de 1497 até a publicação do decreto que extinguia esse Tribunal em 1821, ocasionou alterações consideráveis na vida social portuguesa de época, com visíveis reflexos na área da “psicologia da linguagem”. Parte dos verbetes colhidos a continuação estão destinados a metodizar esta nova e trágica relação entre vocabulários e ideias, decorrente deste fenômeno histórico, tão tenebroso quando inesquecível. Em outras palavras, o período de atuação do Santo Ofício passa a figurar, entre as principais causas que ocasionam a transformação dos vocábulos da língua portuguesa. Esta é uma causa histórica que afetou diretamente tanto a Portugal como o Brasil, uma colônia que dependia sócio-economicamente de sua metrópole. Segundo parece, esta causa histórica escapou até hoje, como também as tentativas de classificação semântica.
A repressão inquisitorial que se desenvolveu na metrópole nos séculos XV e XVI, atingiu rapidamente o Brasil, causando medo e desespero na população judaica local. Os judeus portugueses convertidos, que não aceitavam a nova crença senão com profunda reserva, manifestavam no Brasil seu desapontamento e sua duplicidade de pensamento religioso, criando expressões de dissimulação, e atitudes para encobrir e desviar o sentido das palavras e frases. As tristes experiências que passaram no mundo oculto, tétrico e impenetrável das periódicas “Visitações do Santo Ofício na Bahia e Pernambuco” (1591-1595), produziram vibrações nos seus espíritos, com novos reflexos conscientes e inconscientes na transmissão de seus pensamentos por meio da palavra falada ou escrita.
Os judeus luso-brasileiros, mantidos no constante regime de perseguição e medo, junto a uma imperiosa necessidade de adaptar-se a situações extremamente delicadas, não criaram vocabulários novos e optaram por modificar o sentido literal dos mesmos, atribuindo-lhes um novo sentido espiritual. Às vezes, tanto os judeus como os não-judeus renovaram termos já existentes, estendendo-os ou restringindo-os na medida do necessário, segundo a realidade cotidiana.
Durante a época moderna, o fenômeno de diabolização do elemento judaico no norte do Brasil, trouxe como resultado uma visão negativa e injuriosa do judeu, atitude que ficou claramente registrada no dialeto e no linguajar da região. Da mesma forma, a linguagem dos escritores e estudiosos, fortemente influenciados por um clima messiânico de caráter “sebastianista” (motivado pela esperança num futuro melhor), invadiu subitamente o espírito do homem brasileiro.
Sem ser um conflito de perseguidores e perseguidos como foi em Portugal, o impasse que existiu na sociedade brasileira, apresentou uma outra dimensão, um verdadeiro duelo entre forças “locais e estrangeiras”, entre portugueses de primeira geração e minorias que também desejaram povoar e colonizar o território. Os judeus fizeram parte desta minoria rejeitada, não obstante uns e outros, locais e estrangeiros, intervieram nas alterações sofridas pela própria psicologia da linguagem de seu tempo. Fortes testemunhos das alterações citadas trazem os dicionários etimológicos da língua portuguesa e brasileira, em que ficou estabelecida e relação de causa e efeito entre as mudanças semânticas por elas geradas em ambos campos da luta.
Os vocabulários analisados possuem um sentido conceitual imposto por circunstancias históricas. Não pretendemos mencionar aqui todos aqueles verbetes que possuem etimologias hebraicas. Tentamos explicar apenas vocabulários derivados do hebraico que se infiltraram no português moderno, e alguns dos quais ainda se utilizam com suma frequência na língua falada.
A seguir, classificamos os termos estudados em oito categorias, não apenas sob o critério linguístico-semântico, a saber:
Costumes e Tradições :
Ajudengado Guayado
Bodas Gueto
Corne Malsin-Malsinar
Esnoga Sabadejar
Fadas Toura
Gado (Gadiah)
Gastronomia:
Adafina – Defina
Alface
Azeite
Profissões:
Alfaiate
Arrabi-Arrabiado
Tributos-Economia:
Ancora
Dinheiro
Siclo
Siza-Sisa
Juderega
Religião:
Brívia
Geena (Guehinom)
Genesim
Litith
Sino Samão
População:
Arraia-miuda
Cafres
Heresia
Pejorativo do Judeu:
Belzebu-Berzebu
Judeu (Judiar)
Marranos (Marrar)
Safardana
Satanás (Satan)
Curiosidade:
Azará: Odia
Colera: Quintar
Dono-dona Rixa-riva
Giba-Taftá
Miúdo-Zona
Anexo 1: Palavras em língua Tupi de origem Hebraica
Ab-Aba: O termo ab ou aba que a língua tupi significa “chefe de clã” ou “primeiro da tribo”, parece ter uma origem no vocabulário hebraico av (beit – av) ou aba que significa “pai” ou “chefe de família. Em tupi, existem outras palavras derivadas de “ab”, a saber: abacai, abaeté, abaité, abaré, etc. (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 9ª edição,São Paulo 1987, vol. 1, p. 7; e ver também o verbete abaeté em: A. Geraldo da Cunha, Dicionário Histórico das palavras portuguesas de origem tupi, São Paulo 1978, p. 41).
Caiçara: É bem possível que a palavra caiçara que em tupi significa “fortificação”, venha de verbete hebraico Keisar atribuído ao “governante” ou “imperador” que habitara um palácio ou castelo fortificado. (A. Geraldo de Cunha, Dicionário Histórico das palavras portuguesas de origem tupi, São Paulo 1978, v. caiçara).
Caipora: O vocabulário tupi caipora designava um ser sobrenatural que trazia azar deriva talvez do hebraico kefira (heresia), pois os infiéis e hereges eram considerados no Brasil colonial, como “infelizes” e azarados. (A. Geraldo da Cunha, Dicionário Histórico das palavras portuguesas de origem tupi, São Paulo 1978, v. caipora).
Anexo 2: Palavras em Quichua de Origem Hebraica
Kof: A palavra hebraica kof já aparece na Bíblia em sua forma plural kofim, para designar um tipo de macaco ou mono trazido pelo sábio Rei Salomão de um lugar desconhecido chamado Tarschisch. (Livro II de Crônicas 9:21).
Shenhavim: O termo shenhav, originário na língua hebraica significa “marfim”. Ele aparece também na Bíblia em sua forma plural shenhavim, e designa o precioso material (de cor branca) extraído em Tarshisch dos colmilhos dos elefantes. (Livro II de Crônicas, 9:21).
Tuki: Em língua tupi, tuki significa pavão ou uma espécie de “peru selvagem”. Na citação bíblica a palavra aparece em sua forma plural tukim, (Livro II de Crônicas, 9:21); e cabe lembrar que no hebraico moderno, a palavra designa um “papagaio”, ou ave de pequeno porte de caráter doméstica.
Yapur(a): Talvez esta palavra seja uma corruptela de Ophir, pois na língua hebraica existe uma proximidade e semelhança semântica e etimológica entre Ophir e Yapur ou Yapura. Na escrita, sempre a raiz se conserva integralmente. (Ver a seguir verbete Ophir).
Anexo 3: Palavras Portuguesas de Origem Hebraica ou de Significado Hebraico
Adafina: O termo Adafina deriva do hebraico dafna (ale-dafna) que significa “louro” e designa uma espécie de guisado cozido e temperado com folhas de louro, comido pelos judeus “sefarditas” originários da Península Ibérica. (Miguel Nimer, Influências Orientais na Língua Portuguesa, São Paulo 1943, p. 249). Ver adiante o termo dafina ou defina.
Ajudengado: Trata-se de uma pessoa que possui modos de judaísmo ou se comporta a maneira dos judeus. Diz o poeta do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende: “Não guardamos nossa Lei / de Cristo como os cristãos bem fieis / Nem servimos nosso rei / senão de serviços vãos e revéis./ Isto faz o praticar nossas maneiras judengas…” (CGGR, vol. I, 226).
Em 21/8/1591, uma brasileira levou ao conhecimento da Mesa da Visitação na Bahia, que a mãe de Mecia Roiz (uma mulher já falecida), “fazia cousas de judia, e que seus modos eram ajudengados” (Denunciações da Bahia, 1591-1593, São Paulo 1925, p. 394).
Alface: Este termo deriva do vocabulário árabe alkhass. Embora a semelhança com o hebraico é muito grande, já que a corruptela da palavra al-fassa para o hebraico al-faiat (as letras f e h se confundem) deu origem a palavra hassa (alface) do hebraico atual. (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 9ª edição, São Paulo 1987, vol. 1, p. 91).
Alfaiate: Tudo indica que a palavra ‘falat’ é uma corruptela fonética derivada da palavra hebraica ‘chaiat’, ou seja, “alfaiat” era “al-chaiat”; a típica profissão judaica exercida pelos judeus europeus no período medieval. Na “Farsa da Inês Pereira”, escrita por Gil Vicente, aparece: “e o Chistiam pera alfayte sem agulha, e sem dinheyro…” (Gil Vicente, Inês Pereira, copla ccxxxviii).
Ancora: A ancora era uma taxa, uma espécie de tributo que oneravam os judeus em Portugal. Assim, a cada náu ou galera mandada construir pela Coroa, cada judeu era obrigado a uma contribuição monetária. (Solidonio Leite Filho, Da influência do elemento judaico no descobrimento e comercio do Brasil: século XVI-XVII. Tese apresentada ao III Congresso de Historia Nacional, Comemorativa do Centenário do Instituto Histórico Brasileiro, Rio de Janeiro 1938, p. 9).
Arrabi: Era o “Doutor em Lei Judaica“ em Portugal. Os judeus viviam sob proteção do monarca, sendo seus juízes privativos os arrabis , termo derivado do hebraico rav ou ha-rav, ou seja “o rabino”. Nas Ordenações de D. Afonso V, ordena-se “que os arrabis das comunas guardem em seus julgados os seus direitos e costumes” (Ordenação do Senhor Rei D. Afonso V, Coimbra 1792, 432). Em 24/8/1591, na Visitação da Mesa do Santo Oficio a Bahia, foi denunciado o rico cristão novo João Nunes, porque “ouviu dizer na dita capitania de Pernambuco, que ele é o Rabi da Lei dos judeus que nela há” (Denunciações da Bahia, 1591-1593, São Paulo 1925, 449).
Arrabiado: era certo direito, foro, ou tributo, que os judeus pagavam a Coroa portuguesa pelo privilegio de serem julgados pelos seus Rabinos. As vezes, o Rei transferia a outra pessoa ou a própria Igreja esse direito. (H. da Gama Barros, Judeus e Mouros em Portugal em tempos passados, Revista Lusitânia vol. XXXV (1937), pág. 162; Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram, etc…2ª edição, Lisboa 1865, Tomo I, pág. 89).
Arria-Miuda: A palavra arrai significa “plebe”. Talvez o vocabulário arraiah venha da forma hebraica há-roe que significa “rebanho”. (M. Nimer, Influencias Orientais na Língua Portuguesas, São Paulo 1943, pp. 225-226). No próprio Cristianismo, o povo é um rebanho que encontra em Jesus Cristo o pastor que zele por ele, o governe, e o administre. Gonçalo Aenes Bandarra, o sapateiro de Trancoso, escreve nas “Trovas” proféticas por 1550: “Acho que depois vira / as ovelhas do pastor…/ Servirão um só Senhor, Jesus Cristo que nomeio / Todos crerão que já veio / O Ungido Salvador. (Trovas de Bandarra, Sonho Terceiro, em: A. Machado Pires, D. Sebastião e o Encoberto, 2ª edição Lisboa 1980, pp.144-145).
Azar, Azara: O termo significa “infortúnio”, “infelicidade”, “trazer má sorte a alguém”, etc. (F. Silveira Bueno, Grande Dicionário – Prosódico da Língua Portuguesa, São Paulo 1963, vol. 1 p. 457). É provável que este vocábulo usado na língua portuguesa no Brasil, composto pelo artigo “a” e o substantivo zara, derive do hebraico há-tzara, ou seja, uma pessoa que pela sua “aflição”, “inspira lástima”, “pena”; um ser humano carente de sorte, infeliz, etc. O poeta Gil Vicente escreve numa peça teatral: “Hazará pedra miuda…” (C. Lafer, Gil Vicente e Camões, São Paulo 1978, p. 42).
Azeite: O termo azeite, óleo de oliva, e por extensão óleo de outras frutas (amêndoas, amendoim, etc.), pode ter suas raízes na palavra zait, que aparece na Bíblia, (F. Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa, São Paulo 1963, vol. 1, p. 457).
Belzebu: O vocábulo Belzebu deriva dos cultos fenícios do Baal. O termo hebraizou-se com o sufixo zebel (lixo) e ficou sob a forma Baal-Zebel. Logo após a união de ambos tomou a forma de Belzebu aplicando-se como nome do diabo freqüentemente representado pelo judeu. (N. Omegna, Diabolização dos Judeus, Rio de Janeiro 1969, p. 48). Uma outra fonte nos informa , que “Belzebu” vem das palavras hebraicas Baal e Zebut que indica o “Príncipe dos Demônios” ou “Ser Diabólico”. (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 4ª edição, São Paulo 1980, vol. 1, p. 267). E num texto de Gil Vicente: “Conjuro-te Belzebu / póla ceguidade Hebraica / polla malícia Judayca / com qual te alegras tu”. (Lafer, Gil Vicente e Camões, São Paulo 1978, p. 44).
Boda: Este termo deriva da raiz hebraica b-d-sh que significa “festejar”, “comemorar”, “celebrar” (Nelson Omegna, Diabolização dos Judeus, Rio de Janeiro 1969, p. 257).
Brívia: A palavra significa literalmente “Bíblia”. Durante o século XVI-XVII, são mencionadas, entre os livros proibidos pelo Santo Oficio da Inquisição “Brívias em Linguagem”, ou seja, ‘as bíblias em linguagem vernácula’. A palavra Brívia era também utilizada pelos autores da língua hebraica. Ao transmitirem controvérsias realizadas entre cristãos e judeus, em que os primeiros se referem a ‘Bíblia’. (Shelomo Ibn Verga, Shebet Iehuda, Jerusalém 1946, p. 26 ff, 83,141).
Cafres: Na colônia portuguesa de Cafraria, localizada em Cabo Verde, existia uma população negra em tribos indígenas conhecidas como Cafres ou Cafires. Casa tribo levava o nome do fundador da dinastia. Existe também, a etimologia hebraica do vocábulo e resulta aceitável que este nome cafre derive da raiz ‘K-f-r’ da qual surge o Kofer (herege), kfira (heresia). Os ‘Sete cafres Contumazes’ seriam os sete ou oito judeus portugueses que resistiram ao batismo forçado nas conversões gerais de 1497. Nas crônicas judaicas estes judeus são apelidados ‘Shiva Kedoshei Elyon’, ou seja, os ‘Sete mártires divinos’. (Schulman, Toldot Hachmei Israel [= História dos sábios Judeus], Vilna 1879, vol. IV, 92).
Cólera: Aparentemente de raiz latina cholera, e grega kholera, na verdade, este verbete tem sua origem da língua hebraica. Trata-se da composição de duas expressões: Chole, ou seja ‘doente’; e ‘ra’ que significa ‘ruim’. Vejamos, agora duas explicações possíveis a respeito deste termo:
1) Segundo a forma literal, a cólera era uma doença característica por febre, perda do apetite, diarreia, e pode também complicar-se numa úlcera intestinal.
2) Numa interpretação abstrata, estaríamos em presença de uma pessoa que apresenta impulsos violentos, ira, irritação forte que se manifesta contra aquele que o ofende e indigna. (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 9ª edição, São Paulo 1987, vol. 1, p. 444).
Corne: A palavra Cornucopia, que designa os apêndices duros e recurvados que possuem certos ruminantes na cabeça (chifres, guampas, hastes, etc), é de origem latina. Ela ingressou na língua romana, embora provém da raiz hebraica k-r-n, ou seja ‘corne’ / ‘trombeta’. Pelo significado, este antigo instrumento de sopro, encontra seu equivalente no termo bíblico shofar (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 4ª edição, São Paulo 1980. Vol 1, págs. 490-491).
Dafina-defina: um dos significados da palavra ‘definah’ é literalmente ‘enterrada’, ‘escondida’, pelo que se deve interpretar ‘(a comida) que se esconde de um dia para outro’. Existiam dois tipos de guisados diferentes:
a) o de dafin (cozinhado com arroz e carne);
b) o de madfunah (guisado feito de legumes e arroz). Devemos rejeitar a expressão ‘sarrabulho’, uma espécie de guisado que os judeus certamente não comiam, feito com o sangue, o fígado, e a banha do porco derretida. (M. Nimar, Influências Orientais na Língua Portuguesa, São Paulo 1943. pág. 248). Ver também acima o vocábulo ‘adafina’.
Dinheiro: Este vocábulo tem sua origem na antiga moeda de ouro, emitida nos territórios muçulmanos, chamada dinar ou em plural dinarim. O vocábulo aparece também na forma latina denariu. (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 4ª Edição, São Paulo 1980, vol. 1, p. 607).
Dono / Dona: As palavras em língua portuguesa dono e dona aparecem nas peças teatrais de Gil Vicente, e encontram as suas explicações na etimologia da palavra hebraica ‘Adon’, que significa ‘Senhor’; e num outro vocábulo de mesma raiz Adonai, ou seja ‘Meu Senhor’ (Meu servo), certamente fazendo-se referência ao único Deus, Criador do universo. (C. Lafer, Gil Vicente e Camões, São Paulo 1978, p.63).
Esnoga: São varias as formas ortográficas para denominar ‘Templo Judaico’ ou sinagoga, lugar onde se reúnem os judeus para celebrar seus ofícios religiosos, a saber: exnoga, synoga, sinoga, senoga e esnoga. Garcia de Resende, na sua ‘Miscelanea’ escreve: ‘Os judeus vi cá tornados / todos num tempo cristãos /… / vimos synogas mezquitas / em que sempre eram ditas / e pregadas heresias / tornados em nossos dias / Igrejas santas benditas. (CGGR, Miscelanea, Coimbra 1917, 51; e também: E. Lipinner, Os judaizantes nas Capitanias de Cima, São Paulo 1969, cap. IV, p. 85 ff).
Fadas: A palavra fadas é também de origem hebraica e deriva do vocabulário hadash. Embora alguns pesquisadores relacionam o termo com o fatum romano, parece ser mais aceitável vincular esta palavra ao fadar. Este antigo costume consistia em reunir-se no quarto da parturenta que recentemente deu a luz seu filho; vestir a criança de branco, cantar, dançar, comer e beber, dando assim a bem vinda ao “novo ser” recém chegado ao mundo. (H. Beinart, Anussim be-din ha-Inqvizitzia [Conversas na Inquisição], Tel-Aviv 1965, p. 222) O escritor Gil Vicente escreveu: “Assim me fadem boas fadas / q[eu] me soltou caganeyra”. (C. Lafer, Gil Vicente e Camões, São Paulo 1978, p. 60).
Gado: Esta palavra indica o nome geral dado aos animais domésticos: boi, vaca, carneiro, ovelha, cabra, que vivem em rebanhos. Ela deriva da palavra hebraica “gdi” ou do aramaico “gadiah”, animal que era sacrificado no Templo Sagrado, e aparece no bonito poema “Had-Gadiah” que se costuma cantar ao finalizar o “Jantar da Páscoa Judaica”. (F. Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico-Prosódico de Língua Portuguesa, São Paulo 1965, vol. 4, p. 1500).
Gaia – Guaias – Guayas: Ver a continuação verbete Guayado.
Geena: O verbete Geena, que na cosmogonia judaica significa “o fogo eterno”, deriva da palavra hebraica Guehenom nome pelo qual se denomina o “inferno”, a “caldeira” que arde no Céu.No “Cancioneiro Geral” de Garcia de Resende aparece o Guehenom nas formas latinas: “Poor trinta que deste, / no inferno arderás./ Judas, [e] outros que lá estão /te aparelham na carreyra, / dizem todos a hua mão: /-Venha, venha este cristão / d’ Oliveyra / povoar esta caldeyra. (CGGR, cantiga 620, p. 175).
Genesim: Esta palavra encontrada em documentos antigos, é uma corruptela da palavra Genesis, ou seja, Bereshit o primeiro livro da Bíblia. Ela assinala a escola ou aula em que eram ensinados em Portugal, antes da conversão forçada de 1497, os “Cinco Livros de Moises”. Tem esse nome também o imposto pago pelos judeus para poderem ter nas escolas ou sinagogas, as aulas da Sagrada Escritura (Limudei Kodesh). (Lipiner, Santa Inquisição: Terror e Linguagem, Rio de Janeiro 1977, pp. 76-77).
Giba: A palavra giba, ou seja “corcova”, “corcunda” ,provem da língua hebraica. O nome tem sua origem no vocábulo gowa que significa “altura”; e dele derivam outras palavras da mesma raiz como ser: gwaim (alturas), etc. (N. Omegna. Diabolização dos Judeus, Rio de Janeiro 1969, p. 260).
Guaydo: Guias ou guayas eram suspiros ou lamentos, emitidos pelo judeu na sinagoga durante a prática religiosa. O termo foi empregado com o sentido de movimentos rítmicos e inclinações rituais do corpo durante a oração. No processo inquisitorial de Miguel Gomes, a testemunha Ascensão Dias Rato afirma que numa cerimônia judaica clandestina se recomendou aos circunstantes “abaixarem a cabeça, e fizessem com o rosto guaias, que é certo maneio com os olhos e com a cabeça ao tempo que abaixarem esta, o que ele Rato e os [de]mais circunstantes executavam na mesma forma que o dito Miguel Gomes lhes tinha dito”.(A.J. Teixeira, Antônio Homem e a Inquisição, Coimbra 1895-1902, pág. 198). Ver a continuação o termo sabadear ou sabadejar.
Gueto: A palavra “gueto” é uma forma aportuguesada do termo italiano ghetto (ex: Ghetto de Veneza), e designa os quarteirões ou bairros em que os judeus eram isolados, ilhados, pelas “Leis Discriminatórias” que regiam a maioria das nações da Europa ocidental. Durante a Segunda Grande Guerra, foi o lugar onde eram concentrados os judeus durante a ocupação nazista, para depois serem transportados a campos de concentração, e finalmente de extermínio. O tempo deriva da palavra guet que em língua hebraica assinala separação, geralmente matrimonial. (N. Omegna, Diabolização dos Judeus, Rio de Janeiro 1969, p. 226 ff).
Heresia: Além do significado em grego “pessoa que não obedece ao dogma”, existe a possibilidade que este termo derive do hebraico, pois os judeus convertidos ao Cristianismo, isto é os “cristãos novos” que judaizavam, eram considerados hereges; e a palavra hebraica heresia poderia ter sua origem na palavra heres que significa destruição pois, segundo os “cristãos velhos”, os judeus batizados e convertidos ao Cristianismo em 1497, pretendiam destruir por completo a nova fé recentemente adquirida.
Porém, todos os escritores eclesiásticos, serviram-se dessa palavra, para com ela designar qualquer opinião contraria a fé da Santa Igreja. (E. Lipiner, Santa Inquisição: Terror e Linguagem, Rio de Janeiro 1977, p. 80).
Judenga: Este termo não deriva do hebraico, e seu significado é pejorativo. Ele assinala a Dança de judeus; ou de figura judia numa procissão cristã, geralmente realizada na rua da cidade. (São Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram, etc., 2ª edição, Lisboa 1865, v. Segitorio).
Judengo: Nas “Ordenações do Reino”, este termo define o vinho feito à maneira dos judeus e vendido em tavernas de judeus. O vinho judengo era para uso exclusivo de judeus, pois os cristãos bebiam do vinho cristengo ou cristeguo nas suas tavernas. Naturalmente, o vinho judengo (casher) servia para qualquer cerimônia, uma vez que era preparado de acordo com o ritual dos judeus. (Ordenações do Senhor Rei D. Afonso V, Coimbra 1792, vol. II, p. 509 ff; e ainda: Sousa Viterbo, Ocorrências da vida judaica, Arquivo Histórico Português, vol. II (1904), p. 180 ff).
Juderega: Este termo significa o tributo humilhante de trinta dinheiros que os judeus estavam obrigados a pagar por cabeça, nos primeiros anos de monarquia portuguesa, como castigo por haverem vendido Cristo por idêntica quantia. Este tributo era denominado judenga, e praticamente nada tinha a ver com a “dança de judeus” acima citada. (J. Mendes dos Remédios. Os Judeus em Portugal, 2 vols., Coimbra 1895, vol. I, p. 370).
Judiar: Este verbo assiduamente utilizado na língua portuguesa falada tem uma conotação hostil e ofensiva. Judiar alguém significa “maltratar”, ”provocar”, “instigar”, “escarniar”, “zombar”, “mofar”. È realmente de se lamentar, que sejam os próprios judeus (brasileiros) aqueles que, por ignorância, utilizam este termo de acentuado tom pejorativo (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 9ª edição, São Paulo 1987, vol. 2 p. 1010).
Judiaria: A palavra define o bairro separado em que viviam os judeus na Península Ibérica. Em Portugal, ele se denomina judiaria ou judaria. O objetivo do governo com a política separatista era restringir ao máximo as relações entre judeus e a população cristã. Os judeus deviam recolher-se ao seu bairro “depois que o sino da oração for acabado de tanger”. Nas Ordenações do Reino, regula-se com detalhes “de como os judeus hão de viver em judiarias apartadamente…”, bem como “as penas que haveram os judeus, se forem achados fora da judaria depois do sino da oração”. (Ordenações do Senhor Rei D. Afonso V, Coimbra 1792, vol. II, 474).
Lilith: O nome da “deidade da noite”, mais conhecida como Lilith, deriva da palavra hebraica Leil ou Laila (noite). Em hebraico Litith é coruja. (N. Omegna, Diabolização dos Judeus, Rio de Janeiro 1969, p. 48).
Malsin- Malxin: É da língua hebraica que deriva o substantivo malsinar, cujo significado é “delator”, “espião”, “caluniador”, “denunciar”, ou “caluniar” uma pessoa”. A palavra provém da frase “Dar sina má” (mal-sinal), ou “Augurar má”. (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 9ª edição, São Paulo 1987, vol. 2, 1085).
Em 8/06/1541, Simão Nunes denunciou a Inquisição de Lisboa a existência, em Função, de uma sinagoga onde se praticava ritos judaicos, acrescentando que ele, denunciante, “durante muito tempo praticou também cerimônias judaicas, mas que há anos se apartou deles por lhe chamarem malsim, por ele ter descoberto o dinheiro que eles tiraram para Roma”.(Arquivo Histórico Português VI, p.108).
Maranata: Esta palavra não vem diretamente do hebraico, e sim do aramaico Maran Ata, que significa “Vem Senhor Nosso”. Há pesquisadores que levantaram a tese que a palavra, “Marrano” possa ter surgido desta forma idiomática que já aparece nas Epístolas ou Cartas de Paulo aos coríntios. (D. Gonçalo Maeso, Sobre la etimologia de la voz “Marrano” ver: Sefarad XV (1955), pp. 373-385).
Marranos-Marrar: Esta designação injuriosa era dada aos judeus que, uma vez convertidos ao Cristianismo, continuavam a seguir, clandestinamente, os ritos e costumes judaicos. O poeta do “Cancioneiro Geral” de Garcia de Resende escreve: “Por marranos não difamo / os que forem judeus, sendo / cristãos lindos / mas apóstolos lhe chamo, / mui grandes louvores tendo / mui infindos./ São marranos os que marram nossa fé mui infiéis batizados / que na Lei velha se amarram / dos Negros Abravaneis doutrinados. (CGGR em J. Mendes dos Remédios, Os Judeus em Portugal, 2 vols., Coimbra 1928, vol. II, p. 314). Os holandeses inimigos mortais dos portugueses, apelidaram estes de marranos (porcos) durante a ocupação holandesa do Brasil: “…As promessas que esses marranos lhes fizeram não hão de durar senão enquanto o Bispo da Bahia ou uma Bula de Roma não os desobrigar delas”. (E. Lipiner, Santa Inquisição: Terror e Linguagem, Rio de Janeiro 1977, p. 100).
Miúdo: Existe a possibilidade que o termo “miúdo” (ou “miúda”) tenha sua origem na palavra hebraica meat (com pronuncia: “miad”) que significa “pouco”, “escassez”, etc. As classes inferiores do povo, aqueles de “poucos valores” culturais e de “escassos recursos” econômicos, eram geralmente conhecidas como “arraia-miúda”. Ver acima arraia-miúda.
Odia: Na língua hebraica a palavra odia quer dizer “dávida” ou “presente”. Desta raiz tem sua origem o verbo leodot (agradecer), e a palavra todá (obrigado), ambos utilizados no hebraico moderno. (M. Nimer, Influente Orientais na Língua Portuguesa, São Paulo 1943, p. 179).
Quintar: Na língua portuguesa arcaica quintar significava tirar de cada cinco-uma. Esta era uma das acusações dos cristãos fanáticos contra os médicos judeus, dizendo que de cada cinco pacientes atendidos, matavam um deles. Foi esta absurda acusação, própria da “arraia miúda” (plebe),que deu origem a uma legislação restritiva especial. (J. L. de Azevedo História dos Cristãos Novos Portugueses, Lisboa 1921, pp.167, 220, 238, 465-468 (Apêndice 11), 469 (ver apêndice 12), etc.
Rixa – Riva :Este termo, é utilizado para designar indivíduos que estando desavindos entre si, não perdem ocasião de se oferecem mutuamente. Ele deriva do termo hebraico riv ou meriwa que significa “briga”, “atrito”, “incidente”, etc. É aceitável que no primeiro momento a palavra rixa tenha sido pronunciada riva, pois dela derivem os termos “rival” “rivalidade”, “rivalizar”,…etc.(Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 4ª edição, São Paulo 19820, vol. 2, p. 1522).
Sabadear/Sabadejar: Os dicionários que registram este termo derivado do hebraico atribuem-lhe unicamente o significado de “festejar”, “guardar” ou “comemorar o sábado” a maneira judaica, ou seja, realizando intensos e rítmicos movimentos com a cabeça, com as mãos, e com o corpo em geral. Em processo de Inquisição espanhola, encontramos conversos “fasiendo oración judayca, sabadeando” e num outro “que este testigo le vido estar de cara a la parede sabadeando e diciendo Adonay: e que estando allí desde ora de cerca fasta las onse [h]oras todavia resando e sabadeando…” (H. Beinart, Anussim be-din Há-Inqvizitzia, [Conversos na Inquisição], Tel Aviv 1965, p. 300).
Safardana: A expressão sefardana, originária da palavra Sefarad (Espanha), e insultuosa é pejorativa. Segundo o historiador Augusto de Lima Junior, esta palavra é desconhecida, e designa aos miseráveis e coitados judeus sefaraditas. (N. Omegna, Diabolização dos Judeus, Rio de Janeiro 1969, p. 234).
Sata-Satanás: Satanás, uma variante de Satã (ou Belzebu), é o maioral do inferno. O povo por influencia de Santo diz Satanás. (F. Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, vol. 7, pp. 3664-3665). Certamente o nome Satanás tem sua origem da palavra hebraica satán, que significa “Diabo”. No Novo Testamento, o diabo aparece como o inimigo de Deus e de Jesus seu filho (Mateus 13:39 ) .A antiga relação entre o judeu e o diabo, não precisa maiores explicações. O “Plauto português”, Gil Vicente, trata este delicado tema nas suas peças teatrais. (C. Lafer, Gil Vicente e Camões, São Paulo 1978.43 ff.).
Siclo: O “siclo” deriva da palavra shekel, que assinala uma unidade de peso hebraica e dos diversos povos (babilônios, gregos, sírios), na antiguidade. O significado do siclo poderá ser diferenciada, e indicar uma moeda de prata com o “peso de um siclo”, utilizada apenas por fenícios e hebreus entre os anos 200 a.e.c e 200 d.e.c (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 4ª ed., São Paulo 1980, vol. 2 p. 1594)
Signo Salomão: Este termo designava a formosa estrela de cinco pontas, atribuída ao Rei Davi, embora ele pertencesse ao Rei Salomão. Este signo aparece ligado a feitiçaria, pois em 1557 um clérigo do nome Alexandre Días denuncia a Inquisição de Lisboa, ter encontrado um livro manuscrito tendo figuras de signos saimões, e meios signos saimões, com nomes de demônios. Segundo denunciações levadas a Mesa da Visitação do Santo Ofício na Bahia, também as feiticeiras coloniais usavam o signo saimão nos cultos de magia negra (Arquivo Histórico Português VII, 11; Denunciações da Bahia 1591-1593. São Paulo 1925, p. 395 e 432).
Siza – Sisa: A “sisa” era o nome do imposto de transmissão que os judeus pagavam por família. “Sisar” era lançar o imposto, impor os judeus o pagamento da sisa. (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 4ª edição, São Paulo 1980, vol. 2, p. 1608).
Synoga – Sinagoga: Ver acima verbete esnoga.
Tafeta: A palavra tafeta deriva do hebraico taftá, e assinala um tecido lustroso de seda. A palavra aparece também em língua persa como taftah (M. Nimer, Influências Orientais na Língua Portuguesa, São Paulo 1943, pp. 111-112).
Toura: O termo hebraico Toura significa Torá ou “Livros do Pentateuco”, livros da Lei, de ensinamentos e da doutrina judaica. Nos papéis de jurisprudência portuguesa (forais) lemos: “Costume é que os judeus devem jurar pelos Cinco Livros de Moises, que eles chamam Toura…etc.” (Coleção de Inéditos de História Portuguesa. Academia Real das Sciências de Lisboa vol. V (1824), p. 520. Fernão Lopes, o célebre cronista português, relata que, chegando a rainha D. Leonor Teles a cidade de Santarém, vieram a seu encontro recebe-la; além das mulheres do lugar, também “os judeus com as Touras…etc” (Fernão Lopes, Chrônica de El-rei D. João I, Lisboa 1897, vol. I, p. 97). Nas “Visitações do Santo Oficio” no Brasil, o termo toura aparece com grade frequência. (E. Lipiner, Os Judaizantes nas Capitanias de Cima, São Paulo 1969, cap. IV, p. 85 ff).
Zona: Esta palavra de origem hebraica significa “desordem” ou “bagunça”. Existe também uma outra possibilidade etimológica do termo, e é que derive da palavra “zoná” que define uma “mulher pública”, “meretriz”, “prostituta”. Como é de amplo conhecimento, o comportamento das mulheres públicas um tanto turbulento, efervescente e tumultuado, ia ocasionando desordem na via pública.
Anexo 4: Nomes Próprios de Origem Hebraicos
Bahia: A palavra “Bahia” tradicionalmente atribuída a “Bahia de Todos os Santos”, possui também uma outra explicação. Ela poderia derivar do hebraico ba-ia que significa “Ele veio” ou “Deus chegou”; pois a palavra “ba” indica chegar, vir; e a palavra “ia”(Há-Shem) é um dos 72 nomes sagrados de Deus segundo a Cabalá.
Barcelos: è aceitável que o Nome da localidade de Barcelos (no Brasil e Portugal), tenha sua origem na palavra barzel que na língua hebraica significa “ferro”, produto básico que o Brasil já possuía desde sua descoberta.
Brasil: Certamente, todos conhecem a versão tradicional que afirma o nome Brasil derivar do pau-brasil, madeira que emitia uma tinta de cor vermelha, ou da palavra brasa, também da cor vermelha como fogo. (Ver: Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 9ª edição, São Paulo 1987 vol. 1, p. 299). As citadas duas versões, se somaria uma terceira explicação que afirma que a palavra “Brasil” derivaria do termo hebraico barsel que é ferro, um produto que, enferrujado, também adquire uma cor vermelhada.
Ceara: Este Estado do Brasil tomou seu nome da forma “Ciara”, que em língua tupi assinala uma das espécies de araras. Esta palavra pode, talvez, ter sua origem do vocábulo hebraico zeará que significa “tormenta”. (F. Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, vol. 2, p. 657).
Goias: O nome de um Estado Brasileiro era também o nome de uma tribo de indígenas desse local. Segundo Von Martius, a raiz gua significa “variado de cores”. Resulta interessante que em língua hebraica a palavra gwa[n], em seu plural gwanim ( letra u e v se trocam), também indica “variado de cores”, objetivo “multicor”, etc. Não obstante as especulações, parece que o nome “Goias” deriva do tupi “Goyaz”, quer dizer: “campo de flores”. (F. Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, São Paulo 1965, vol. 4, p. 1599).
Noronha (Fernando de): O arquipélago a 345 km da costa de Rio Grande do Norte, composto por uma ilha do mesmo nome, tomou o nome do primeiro cristão-novo português que recebeu, em 1502, uma “capitania” para povoar a recentemente colônia “Terra de Santa Cruz”, posteriormente denominada Brasil com terminologia Geográfica, 2ª edição, São Paulo 1973, 176).
Ophir / Ofir: Esta localidade da época bíblica ficou famosa pela abundancia de ouro que ali havia. O comercio marítimo realizado entre Eretz Israel e Ophir foi possível graças à existência do porto de “Ezion-Geber” durante o período do Rei Salomão. Segundo textos bíblicos (Livro I dos Reis 9:28 e 10:11, Livros II das Crônicas 8:18 e 9:10) da cidade de Ophir eram trazidas pedras preciosas, ouro e madeira de sândalo para a construção do Templo de Jerusalém. Uma viagem rumo a Ophir requeria uma boa preparação das frotas. É possível que a difícil tarefa de transportar o ouro era feita com ajuda de hábeis marujos fenícios vindos de Tiro. A Bíblia nos conta que o Rei Salomão chegou apenas uma vez a Ophir, embora o ouro deste lugar já era famoso em Israel, Síria, Babilônia e Ásia Menor. O uso de ouro em na Terra de Israel esta muito bem documentado na conhecida frase bíblica: Zahav Ophir le-Beit Horon, ou seja “o ouro de Ophir para Beit Horon”. (Enciclopédia Judaica, vol. 12, págs.1413-1414).
Paru-Puru: Paru ou Puru é o nome de um dos rios auríferos de Rio Amazonas. É possível que a etimologia da palavra se encontre no trecho bíblico do Livro II das Crônicas, cap. 3, vers. 3-5 onde se relata que o Rei Salomão: “…ornou esta sala [do Templo] com pedras preciosas, [e] o ouro era de Parvaim…etc”. Paru ou Puru seria uma corruptela da Paravaim bíblica e estaria localizada na Amazônia, pois a proximidade idiomática com os nomes indígenas dos afluentes do Rio das Amazonas “Paru e Apu-Paru” é evidente.
Perda Bonita: Não podemos afirmar com certeza se estas duas palavras derivam de uma raiz hebraica, embora na Bíblia estas palavras aparecem algumas vezes. No livro de Isaías (54:12), encontramos por exemplo a expressão avnei chefetz que poderá traduzir-se como “pedras vivas” ou num sentido não tão literal como pedras bonitas, “pedras preciosas”, etc.
Recife: Recife significa rochedo marinho, escolho, penedo submerso. A forma arcaica do termo deriva do árabe ar-racif, ou seja caminho, rua, calçada pavimentada e revestida de pedras. A palavra foi aceita no idioma hebraico como ratzif que significa “plataforma”, ou seja, uma plataforma de corais paralela à costa, rochedos nas proximidades do costado mar e a flor da água. (F. Silveira Bueno, Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, São Paulo 1967, vol. 7, p. 3396).
Solimões: É o nome de um dos rios auríferos do famoso Rio das Amazonas. Existe a possibilidade de que este termo tenha sua origem em Shelomo, o nome hebraico do Rei Salomão na Bíblia. Toda esta região brasileira cercada por este rio se denominava Solimônia, ou seja: “O Império de Salomão”. (Ludwig Schwennhagen, Antiga História do Brasil, de 1.100 a.C à 1.500 d.C, Rio de Janeiro 1970, pp. 39-43).
Tarschisch: Segundo Livro I dos Reis 10:22; Jeremias 10:9; e Ezequiel 27:12 Tarschisch era um porto de onde se transportava prata, ferro, marfim, macacos e outros produtos exóticos para a Terra de Israel. A localização do porto é desconhecida e contraditória. Segundo o Genesis 10:4 e Isaias 23:1, Tarshish devia ser um porto do Mediterrâneo, pois o nome provém de um dos filhos de Yavan na Grécia. Há historiadores antigos como Herodoto, Plinio e Strabo, que identificam o lugar numa cidade ao sul da Espanha chamada Tharsis ou Tartessus. Segundo o Livro dos Reis 10:22, tudo indica que o Rei Salomão tinha uma frota em Tarschisch, cujo porto era Ezion-Geber no Mar Vermelho. A expressão Frota de Tarschisch (Isaías 60:9), designa uma frota de navios resistentes às tormentas, condicionada a longas viagens, e não de forma exclusiva à frota salomônica que chegou a Ophir. Tarschisch é também o nome do filho menor da Bilham (Livro I das Crônicas, 7:10), e um dos “Sete Príncipes da Pérsia e Media” (Livro de Esther 1:14, e na Enciclopédia Judaica, vol. 15 p. 825).
Bibliografia
Arquivo Histórico Português VII.
Beinart, Haim., Anussim be-din ha-Inqvizitzia [Conversos na Inquisição], Tel-Aviv 1965.
Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (CGGR), Coimbra 1917.
Cunha, A. Geraldo da, Dicionário Histórico das palavras portuguesas de origem tupi, São Paulo 1978.
Denunciações da Bahia, 1591-1593, São Paulo 1925.
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 4ª Edição, São Paulo 1980.
Fernão Lopes, Chrônica de El-rei D. João I, Lisboa 1897, vol. I.
Gama Barros, Henrique da, Judeus e Mouros em Portugal em tempos passados, Revista Lusitana vol. XXXV (1937).
Ibn Verga, Shelomo, Shebet Iehuda, [A vara de Judá], Jerusalém 1946.
Lafer, Celso., Gil Vicente e Camôes, São Paulo 1978.
Leite Filho, Solidônio, Da influência do elemento judaico no descobrimento e comercio do Brasil: séculos XVI-XVII. Tese apresentada ao III Congresso de Historia Nacional, Comemorativa do Centenário do Instituto Histórico Brasileiro, Rio de Janeiro 1938
Lipiner, Elias., Os Judaizantes nas Capitanias de Cima, São Paulo 1969.
Machado Pires, Antônio, D. Sebastião e o Encoberto, 2ª edição Lisboa 1980.
Nimer, Miguel., Influências Orientais na Língua Portuguesa, São Paulo 1943.
Omegna, Nelson., Diabolização dos Judeus, Rio de Janeiro 1969, p. 226 ff.
Ordenação do Senhor Rei D. Afonso V, Coimbra 1792.
Santa Rosa de Viterbo, Joaquim de, Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram… 2ª edição, Lisboa 1865.
Schulman, Toldot Hachmei Israel [História dos sábios Judeus], Vilna 1879, vol. IV.
Schwennhagen, Ludwig, Antiga História do Brasil, de 1.100 a.C à 1.500 d.C, Rio de Janeiro 1970.
Silveira Bueno, Francisco da, Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, São Paulo 1967.
Teixeira, A.J., Antônio Homem e a Inquisição, Coimbra 1895-1902.