Até a presente data, 21 de abril 2020, o vírus conhecido como SARS-COV-2, que causa a doença COVID-19, tem atingido mais de 283.746 seres humanos, matando mais de 11.833; espalhando-se pelo mundo, derrubando economias e complicando diariamente a vida das pessoas. As analogias com a Black Death (Peste Negra) de 1348-1350 são inevitáveis e já começam a reverberar. Afinal, o contagio pela peste bubônica resultou num impressionante saldo de morte avaliado em aproximadamente 1/3 da população da Europa.
A semelhança entre as duas pandemias é gritante, sendo que a repercussão entre ambas não reside apenas nas enfermidades em si, mas nos seus desdobramentos e consequências sociais. Naquele século 14 como no atual século 21, os motivos da doença eram atribuídos a certos grupos étnicos. Mesmo que os meios de comunicação ou redes sociais tenham começado a denominar o COVID-19 como a “praga moderna”, a ameaça desta pandemia é ainda pequena se comparada com os medos históricos medievais. O Coronavírus tem atuado como catalizador para que crenças racistas e xenófobas existentes se propaguem com extrema velocidade. Há lojistas que proibiram a entrada de chineses em estabelecimentos, criando um verdadeiro preconceito contra os descendentes da raça amarela.
Como em tempos de Peste Negra na Europa, a COVID-19 teve suas origens nos países asiáticos. Outra semelhança importante entre a Peste Negra e o Coronavírus está na sua rápida propagação. Convertida em pandemia de longo alcance na Idade Média, a Peste Negra se alastrou pelo império mongol, atingiu mercadores e negociantes genoveses e venezianos que comerciavam produtos na famosa “Rota da Seda” pelos continentes descobertos e habitados. Obviamente, América era ainda um incógnito para os europeus até 1492.
No caso do Coronavírus o contágio acontece em diferentes meios de locomoção, sejam eles transportes rodoviários, cruzeiros ultramarinos, viagens domésticas ou internacionais, itinerários turísticos de lazer ou em aglomerações de pessoas.
Certamente, a principal semelhança entre ambos infortúnios reside na resposta imediata às epidemias por parte das populações. O homem medieval buscou e achou nos judeus da Espanha, França e Alemanha o “bode expiatório”; a real causa de seus males. Na época, judeus adoeciam e morriam em menor número que cristãos, pois os primeiros mantinham rígidos costumes de higiene e profilaxia. Enquanto os cristãos, no melhor dos casos, tomavam banho uma vez por mês, os judeus atendendo às “leis de pureza” (dinei teharâ) eram obrigados a lavar o corpo uma vez por semana antes de receber o Shabat, dia sagrado de descanso completo. Além disso, mulheres e homens ainda lavavam diariamente suas mãos (netilat iadaim) e faziam “banhos rituais” (micvê) para purificar seus corpos antes de manter relações íntimas.
Durante o tempo da Peste Negra os judeus eram acusados pelos cristãos de aumentar a mortandade, envenenando o curso dos rios e poços d´agua, como também por negligenciar e boicotar medidas adotadas pelos monarcas. Assim, aumentou rapidamente o ódio gratuito, testemunhado por médicos e cronistas da época que narram com luxo de detalhes torturas e execuções de judeus nas cidades e aldeias da Europa.
Atualmente o alvo do Coronavírus são os asiáticos, especialmente os chineses. Suas empresas no mundo inteiro, nas diversas “chinatown” (bairros chineses) vêm caindo drasticamente. Os restaurantes com seus pratos tradicionais estão atravessando sérias dificuldades; uma vez que o público, por temor à pandemia, está optando por outras gastronomias. Em Roma, cidade fortemente atingida pelo CODIS-19, os chineses estão impedidos de entrar. Na Bolívia, três turistas japoneses foram obrigados a guardar quarentena num hospital, mesmo sem ter apresentado sintomas do vírus nem ter viajado nunca à China.
Mesmo que o Coronavírus siga espalhando-se, ainda se mantém distante das dimensões devastadoras da Peste Negra de 1348. Infelizmente, quase 700 anos depois, estamos repetindo os mesmos erros cometidos no passado. No atual clima de ansiedade e medo, a desinformação continua reinando como o próprio vírus.
Existe também a teoria da conspiração dizendo que o Coronavírus é uma arma biológica criada pela China contra os EUA, a maior potência mundial. Alguns meios de comunicação afirmam categoricamente que o vírus pretende encobrir problemas mundiais que afetam os países: economias globais falhas como resultado da falta de liderança mundial. Na maioria dos países, a liderança é vista como radical e despreparada, pouco confiável e totalmente corrupta.