A “Declaração da Independência do Estado de Israel” redigida por David Ben Gurion e assinada às 16h de 5 de Iyar 5708 (14 de maio de 1948) pelos membros do “Conselho do Povo”, no antigo salão do Museu de Tel Aviv; encerrou um longo período de tribulações, humilhações e Diáspora na História Judaica. Nesta data, depois de acaloradas discussões, o “Conselho do Povo” votou e aprovou o texto final da Declaração. Atender à promessa dos Patriarcas e concretizar o acalentado sonho do lar nacional, prometido na Declaração Balfour de 2 de novembro de 1917, se convertia no maior desafio do movimento sionista nessa empreitada rumo à modernidade.
Vários foram os judeus que protagonizaram esta heroica odisseia sionista, dentre eles as famílias Mann-Fridland. Quando chegou ao antigo porto de Yaffo em 1858, acompanhado por sua mulher, filhos e netos, Yona Mann estava com 60 anos de idade. Sentindo-se um privilegiado, caminhou do porto até Jerusalém peregrinando pela Terra Prometida. Sua mulher, filhos, noras e crianças montavam animais repletos de caixas, atendendo normas e costumes daqueles tempos. Falavam com entusiasmo do preceito bíblico de “povoar a Terra de Israel”, mas não podiam ignorar a paisagem árida, desértica e pedregosa diante de seus olhos.
Em Charson, ao sul da Rússia, seu lugar de origem, Yona Mann e seus filhos encontraram o sustento trabalhando com cimento e potássio. Em Jerusalém, com dinheiro escasso, a maior vontade era estudar Torá e Talmude. O filho de Yona, David, era um rapaz ativo e jamais pensou dedicar-se apenas aos estudos sagrados; ele sonhava em dar continuidade à antiga empresa criada pelo pai. Não passou demasiado tempo e, ajudado pelo seu filho mais novo; abriu uma canteira de cimento.
Naquela época, pleno século 19, não havia indústrias em Jerusalém. A cidade estava suja, abandonada, era pobre e hermeticamente fechada dentro das muralhas. Mas David não desanimou. Depois de encerrar-se a “Guerra da Criméia” em 1856, Jerusalém começava a crescer vertiginosamente com novas casas, enquanto Sir Moses Montefiore (1784-1885) impulsionava financeiramente a construção de bairros fora das muralhas da cidade.
Em 1859, munido de algum dinheiro e ferramentas pouco conhecidas até então, chegou a Jerusalém Moshé Yehudá, outro irmão de David Mann. Pelo lado materno, dois outros irmãos de sobrenome Fridland se incorporaram como sócios à nova empresa de cimento, tijolos e telhas que nascia.
Com o passar do tempo, a sociedade Mann-Fridland inaugurou uma indústria de cimento em Yaffo. Sobre comando de David Klassen, a canteira da nova empresa estava localizada nos campos de cítricos (heb: pardessim) propriedade de sir Moses Montefiore.
Uma carta escrita por Moshé Yehudá Mann permite conhecer com maior profundidade a atividade industrial dos irmãos Mann: “Há três anos deixei Charson (Rússia) chegando à cidade santa de Jerusalém. Ali estabelecido, prometi de não aceitar nenhum dinheiro de benemerência (tzedaká) e sustentar-me com o suor do meu próprio trabalho. Fora de Israel tinha uma fábrica que produzia cimento e queimava tijolos para a construção civil. Graças a Deus, há dois anos administro uma empresa de cimento em Jerusalém, que me rende bom sustento. Já faz um ano que estou em Yaffo e construí um forno para produzir cimento e tijolos, e assim exportar produtos de muito boa qualidade a Londres. Agradeço ao Todo-poderoso que me brindou o sustento de meu sagrado trabalho”.
Porém, o empreendimento de Yaffo não teve êxito e os irmãos Mann-Fridland voltaram a Jerusalém para dedicar-se a primeira fábrica. Desde Jerusalém eles exportavam cimento e tijolos ao Egito, pais em pujante crescimento. O pai Yona, conhecido também como “Yona Potasha” (Yona do Potássio) continuou a estudar Torá e Talmude; enquanto seus vários filhos aumentavam gradativamente o capital da companhia. Um verdadeiro orgulho para o pai poder ver sua iniciativa sendo ampliada e modernizada.
Dentro de um lar de Estudo e Trabalho (Tora ve-Avodá) surgiram novas ocupações. O filho de Moshé Yehudá, de nome Petachia, administrava um pequeno moinho de trigo em Jerusalém, movido por oito cavalos. Yaacov, também filho de Moshé Yehudá aprimorou-se na área da construção civil e, mesmo sem haver-se formado na escola técnica; recebia projetos de engenharia e arquitetura.
Dentre os numerosos projetos realizados por Yaacov Mann podemos mencionar dois que ainda existem em Jerusalém: o “Hospital Shaarei Tzedek” na rua Yaffo e a “Escola Lemel” na rua Yeshayahu; ambos localizados no centro da cidade moderna.
Yona Mann, o patriarca da família, estudou Torá por 10 anos em Jerusalém e conseguiu olhar com orgulho o sucesso de filhos e netos. Seus descendentes diretos são as famílias Mann, Fridland e Livai. Além daqueles filhos que contribuíram consideravelmente para o progresso da economia jerosolimitana, há ainda hoje entre os Mann-Fridland advogados, professores, contadores e comerciantes.
Dos numerosos bisnetos de Yona Mann, um deles chegou a ocupar o importante cargo de Superintendente da Fazenda, Diretor do Banco de Empréstimos Tefachot e Presidente do Hospital Hadassa em Jerusalém.
Não há dúvida alguma que a saga dos Mann-Fridland-Livai é um excelente exemplo de família judaica sionista oriunda do leste europeu que chegou a Terra Santa e fez história.