Leon Leyson, o operário mais jovem da Lista de Schindler

Leon (Leib) Leyson nasceu em 1930 em Narewka, uma aldeia de Bialystok, ao noroeste da Polônia. Seus pais, Chana e Moshé, eram trabalhadores rurais e casaram-se quando ela tinha 16 anos e ele 18, num ‘casamento arranjado’ entre famílias judaicas.
Leon era o menor de cinco irmãos, escutava histórias contadas pela mãe, que, mesmo ocupada, tinha bom astral, controlando a lição de casa dos filhos (LEYSON, 2013, p. 6).

Leyson (2013) conta que seu pai trabalhava como operário-aprendiz numa fábrica de vidro, onde aprendeu a confeccionar moldes para garrafas. A fábrica progredia até que o dono decidiu ampliar seu negócio, mudando-se para a cidade de Cracóvia. Moshé Leyson foi um dos poucos funcionários convidados a acompanhar o patrão para a nova sede da fábrica. Inicialmente, ele foi sozinho para Cracóvia e, em 1938, voltou para buscar o resto da família.

Em Narewka viviam aproximadamente 1.000 judeus. Na aldeia, cristãos e judeus conviviam em harmonia, mas, durante a Semana Santa, explodiam brigas entre os grupos. Pedras eram frequentemente jogadas, e os judeus recebiam apelidos infames, dentre eles ‘Assassinos de Cristo’ (LEYSON, 2013, pp. 13-14). As casas eram de madeira, e as ruas não tinham pavimentação. A eletricidade chegou em 1935, e cada morador devia optar se queria ou não receber a instalação elétrica. A casa dos Leyson tinha um quarto que servia de cozinha, sala para refeições e um dormitório; a única cama era compartilhada pelos membros da família (LEYSON, 2013, pp. 16-17).

A vida dos Leyson girava em torno da família e das festividades religiosas. A água brotava de um poço artesiano, Leon recolhia ovos, o irmão Tsalig empilhava lenha, e a irmã Pesza lavava a louça e fazia compras. A vizinhança era formada por granjeiros
e ferreiros, açougueiros e alfaiates, mestres e comerciantes. Leon frequentava a escola pública pela manhã e o cheder [casa de estudos judaicos] à tarde. No cheder, estudavam-se a língua hebraica e a Bíblia, e a disciplina era rígida: comunicavam-se aos pais os comportamentos inadequados dos alunos.

Os judeus falavam ídiche, e os católicos falavam polonês, enquanto que o hebraico era utilizado na sinagoga. As famílias do shtetl seguiam o padrão patriarcal, e os idosos eram valorizados. Os avós de Leon priorizavam o trabalho árduo e a devoção religiosa, e eram respeitados pelos netos, que tinham orgulho e afeto por eles (LEYSON, 2013, pp.19-20).

A família Leyson em Cracóvia

Cracóvia ficava a 536 km de Narewka e oferecia novas aventuras para as crianças da família Leyson. Eles foram morar num prédio habitado por operários da fábrica de vidro, situado num bairro industrial da cidade. Entre as atrações da cidade,
estava o bairro judaico de Kazemierz, perto do castelo Wawel, residência dos reis poloneses durante a Idade Média, assim como a Antiga Sinagoga e a praça central da cidade. “Era como estar em um filme ou parque de diversões”, confessa Leon Leyson em sua autobiografia (LEYSON, 2013, p. 27).

Cracóvia era uma cidade cosmopolita, com atividades culturais, cafés, teatros e salões de baile. Logo após a chegada da família à cidade, começaram a ser veiculadas notícias sobre a violência contra os judeus. Com isso, as atitudes antissemitas da população da cidade intensificaram-se: os judeus eram hostilizados nas ruas e na escola o mestre chamava Leon de Mosiek, nome ofensivo, sinônimo de judeuzinho. A cada dia ficava mais difícil ignorar as notícias vindas da Alemanha, já dominada por Hitler, e informações sobre a Kristallnacht, em 9 e 10 de novembro de 1938, também chegaram a Cracóvia. Com a anexação da Áustria e a região dos Sudetos (Tchecoslováquia), a possibilidade de uma nova guerra aumentou consideravelmente (LEYSON, 2013, pp. 28-31).

Durante o verão de 1939, os cracovianos armazenaram enormes quantidades de alimentos e transformaram sótãos em refúgios antiaéreos. A mãe de Leon queria voltar para sua aldeia natal, mas não podia ignorar os esforços do pai para construir um
futuro para a família. Em 06 de setembro de 1939, os alemães já estavam em Cracóvia. Durante sua estadia, os judeus eram sempre ridicularizados com caricaturas. As restrições se multiplicavam dia a dia. Os amigos gentis de Leon começaram a ignorá-lo, depois a insultá-lo e, finalmente, não mais brincavam com ele, por sua condição de judeu.

Em 1940, empresários nazistas chegaram a Cracóvia com a ideia de fazer fortuna com a miséria dos trabalhadores judeus, para os quais era proibido manter negócios. A fábrica de vidros onde trabalhava Moshé foi uma das escolhidas. O empresário que tomou posse da empresa demitiu os funcionários, exceto Moshé, que foi poupado por falar alemão, o que lhe permitiu ser tradutor entre alemães e poloneses (LEYSON, 2013, pp. 41-42).

Uma noite, a Gestapo invadiu o apartamento dos Leyson, delatados pelos poloneses ‘por serem judeus’. Moshé foi delatado por ter escondido a chave da fábrica. Diante da mulher e dos filhos, os alemães o jogaram no chão, golpearam-no e começaram a estrangulá-lo. Leon diz que ver o pai machucado “foi um dos piores momentos de sua vida” (LEYSON, 2013, p. 43).

Membros da família Leyson decidiram ajudá–los financeiramente, pois o patriarca tinha perdido seu emprego. Eram tempos difíceis, e os nazistas haviam retirado de Moshé não só sua força de trabalho, mas também sua autoestima e sua dignidade humana. Ele achou uma nova forma de desafiar os nazistas: empregou-se ilegalmente numa outra fábrica de vidro na Rua Lipowa. Certo dia, Moshé foi enviado a uma fábrica de acessórios de cozinha esmaltados, lugar onde também eram fabricadas ferramentas para a guerra. O novo dono precisava abrir um cofre. Moisés não perdeu tempo, pegou as ferramentas e abriu o cofre. A seguir, aconteceu algo totalmente inesperado: O nazista lhe ofereceu emprego imediatamente. O pai de Leon sabia que, mesmo que trabalhasse de graça, existia a possibilidade de ganhar proteção para ele e sua família. Não havia nada a perder. O empresário cujo cofre havia sido forçado e que acabava de emprega–lo era Oskar Schindler (LEYSON, 2013, pp. 49-50).

A fábrica e o gueto

Oskar Schindler confiscou sua fábrica de um industrial judeu de nome Abraham Bankier. Em sua  biografia, Crowe acredita que Schindler pagou um preço justo pela fábrica e que Bankier teria aproveitado essa oportunidade para fazer negócios (CROWE, 2004, 89). Em relação ao quadro de funcionários, sabe-se que, dos 250 operários contratados em 1940, apenas sete eram judeus e os demais eram poloneses. Ele deu à fábrica o nome Deutsche Emalwarenfabrik, fábrica de peças esmaltadas alemãs, que veio a ser mais conhecida pela alcunha de “Emalia”.

Schindler era um homem astuto e aproveitou a oportunidade de enriquecer fabricando panelas e frigideiras, uma lucrativa linha de produtos feita com mão de obra polonesa e judia. Moshé Leyson poderia levar pão e restos de comida para casa e, o mais importante, estava registrado – e caso um policial alemão o detivesse na rua, ele mostraria um documento oficial que o protegeria. Estar empregado o fazia menos vulnerável aos frequentes abusos dos alemães (LEYSON, 2013, pp. 52-53).

O pai de Leon trabalhava várias horas por dia na fábrica Emalia e ainda conseguia fazer um segundo turno na fábrica de vidro. Nos primeiros meses de 1940, podia transitar com liberdade pelas calçadas de Cracóvia, mas nunca sem medo de ser detido. Certa vez León foi acordado à noite por soldados alemães, que lhe bateram com violência. Em maio de 1940, os alemães conceberam um plano para limpar as ruas de judeus – somente 15.000 judeus teriam autorização para ficar em Cracóvia. Durante os meses seguintes, milhares de judeus partiram rumo à zona rural. Alguns saíram voluntariamente, contentes por levar seus pertences e poder fugir dos nazistas. Pouco depois, David, irmão de Leon, ficou sabendo que os deportados não chegavam aos povoados e eram enviados diretamente à morte nos campos de extermínio (LEYSON, 2013, p. 55).

Os Leyson ficaram em Cracóvia, tendo em vista que o pai tinha emprego e residência. A permissão da Emalia incluía a mãe Chana e os irmãos Tsalig e David. A irmã Pesza tinha sua própria autorização de trabalho. Nesta época, passavam fome.
Às sextas-feiras, após as rezas de Shabat, apagavam–se as velas para reutilizá-las na próxima semana. Apesar das restrições, o ritual fortalecia a identidade do lar; a família queria permanecer unida. No final de 1940, os nazistas começaram a construir um gueto na zona sul de Cracóvia. Todos os judeus foram obrigados a mudar para o gueto, pois assim seriam vigiados por alemães. Os Leyson também se mudaram, dirigindo-se ao novo apartamento de um quarto na Rua Lwowska 18, que dividiam com o casal Lufting, expulsos da Alemanha e deportados a Cracóvia. Moshé colocou um cobertor para dividir o apartamento e a intimidade.
Dias após a mudança, o gueto foi fechado pelos nazistas (LEYSON, 2013, págs. 59-60).

A vida no gueto era abominável. Os judeus viviam amontoados, desnutridos e com falta de higiene. Enfermidades aumentavam, gerando psicose nas famílias. A ideologia nazista culpava os judeus por todos os infortúnios. O sr. Lufting era um homem de pouco mais de 50 anos, que adorava contar histórias sobre Nova Iorque, uma cidade de infinitas oportunidades. Sua esposa era uma mulher bem tranquila, que durante o confinamento ficou amiga da mãe de Leon, compartilhando com ela as atividades do lar.

A resistência no gueto manifestava-se de várias formas: rabinos brindavam serviços religiosos, médicos salvavam vidas, e atores e músicos criavam cenários improvisados para peças teatrais e concertos. A vida seguia seu rumo dentro da ‘normalidade’ possível (LEYSON, 2013, p. 63). Leon ia a uma escola hebraica clandestina, no apartamento escuro de um rabino. Ele tinha como amigos a Yosef e Shmuel, e com eles brincava nas ruelas do gueto. As distrações eram escassas, e o tempo era destinado a obter pão ou qualquer outro comestível.

Trabalhando na fábrica de Schindler, o pai de Leon ali tratava de conseguir batatas ou um pedaço de pão. Dormir era um alívio para não sentir fome. Havia judeus que passavam melhor do que outros e carregavam algo de dinheiro ou joias para dentro do gueto. A mãe de Leon limpava os escritórios do “Judenrat” (Conselho Judaico) e dos nazistas. Certo dia, Moshé perguntou a Schindler se seu filho David, de 14 anos, poderia trabalhar na fábrica, e ele concordou. Leon encontrou uma tarefa temporária para ele: colocar fios de palha nas vassouras e escovas de um fabricante alemão. Assim, David também colaboraria com o orçamento familiar (LEYSON, 2013, pp. 66-68).

Em maio de 1942, tiveram início as deportações para o Leste. A situação era aterradora. Os documentos de Moshé salvaram os Leyson, mas os Lufting não tiveram a mesma sorte. Sem aviso prévio foram obrigados a apresentar-se na praça principal
do gueto e deportados a um destino final. Oskar Schindler gastava quantias altas com ‘seus judeus’. Cada judeu tinha um custo diário considerável, pois nele estavam também incluídos os custos pagos aos SS que o ajudavam. Segundo Crowe, o custo diário de um trabalhador judeu era de $1.56, enquanto uma trabalhadora judia custava $1.25 (CROWE, 2004, p. 408).

Em 08 de junho de 1942, os alemães entraram no apartamento dos Leyser e levaram Tsalig, irmão de Leon. No filme “A Lista de Schindler”, há uma cena na qual Oskar Schindler corre, desesperado, até a estação de trem para salvar o seu contador Itzhak Stern. O empresário grita o nome de Stern e consegue tirá-lo do trem em movimento. Mas existe algo que o filme não mostra: enquanto Schindler procura por Stern nos vagões abarrotados de gente, ele vê Tsalig e o reconhece como o filho de seu funcionário Moshé. Trata de retirá-lo do trem, mas Tsalig estava com a noiva Miriam e, como ninguém de sua família trabalhava na fábrica, Schindler nada pode fazer para salvá-la. Quanto a Tsalig, ele disse ao nazista que não abandonaria sua noiva
para salvar-se. Esse trem viajava rumo às câmaras de gás de Belzec (LEYSON, 2013, pp. 72-73).

Em março de 1943, os nazistas liquidaram o gueto de Cracóvia. Os judeus que ainda sobreviviam foram enviados a Plaszów, distante 4 km do gueto. Dentre os deportados estavam Chana, Moshé, David, Pesza e Leon Leyson. Pela primeira vez, os
membros da família foram separados. Plaszów era o pior dos mundos, era entrar no próprio inferno.

Plaszów e ‘Emalia’

Construído sobre cemitérios judaicos profanados e destruídos, Plaszów era um campo de trabalho forçado; um lugar desértico, lúgubre e caótico feito de rochas, quilômetros de pó e arames farpados, cães ferozes e guardas impiedosos. Estava composto por barracas escuras e úmidas onde centenas de prisioneiros com suas roupas listradas realizavam tarefas pesadas, ameaçados por guardas alemães e ucranianos armados. Ao entrar, Leon estava plenamente convencido que não sairia vivo do lugar (LEYSON, 2013, 2013, pp. 86-87).

Enfraquecido pela fome, Leon entrou numa das barracas e adormeceu. O descanso foi um alívio, até que as luzes se acenderam. Os guardas rugiam steh auf (levantem-se), lembrando que era hora de começar a trabalhar. O trabalho era muito perigoso: empilhar madeiras, rochas e pedras ou juntar terra para construir novas barracas. Esgotados, já no final do dia, Leon e seus colegas recebiam uma miserável porção de sopa. Depois, tornavam às frias liteiras para dormir e retomar o calvário na manhã seguinte.

Certa vez, aconteceu um milagre. Prisioneiros que simpatizavam com Leon lhe disseram onde, em Plaszów, estavam localizados os schindlerjuden ou “judeus de Schindler”. Assim, Leon saiu em busca de seu pai Moshé e do irmão David. Era uma
decisão difícil, pois, se fosse descoberto, seria morto. O encontro entre Leon, Moshé e David foi emocionante. A dor e a desilusão tomaram conta do pai. Na hora de partir, o pai prometeu falar com Schindler para que contratasse Leon para trabalhar na fábrica (LEYSON, 2013, pp. 88-90; sobre os Schindlerjuden, FAINGOLD, 2012, p. 58).

Numa das barracas de Plaszów, Leon localizou sua mãe. O encontro foi comovedor. Ela colocou um pão na mão do filho e pediu-lhe para deixar a barraca, pois, se descoberto, seria morto. Leon obedeceu. Não conseguiu ver sua mãe durante um
ano. Ele trabalhava carregando madeiras ou pedras, picando rochas e desenterrando lápides do antigo cemitério judaico para pavimentar as estradas. Certo dia, Leon fez um corte na perna e teve que ir até a enfermaria do campo. Lá, Amon Goeth, o comandante de Plaszów (FAINGOLD, 2012, pp. 57-58), havia passado recentemente e disparado nos prisioneiros que aguardavam por atendimento médico. Leon prometeu que nunca mais iria a uma enfermaria do lager, mesmo sofrendo
(LEYSON, 2013, p. 91).

Segundo Crowe (2004, p. 194), a ‘Solução Final’ e a forte escalada de violência contra os judeus foram determinantes para mudar a mentalidade de Schindler. No final de 1943, ele subornou Goeth e outros membros da SS para edificar um lugar com
moradias ao lado da fábrica Emalia, em Cracóvia. O empresário alemão argumentou ser mais eficiente os prisioneiros-operários morarem perto do trabalho, sem ter que caminhar diariamente do campo até a fábrica. O anexo de moradias ficou pronto na primavera de 1944, e o pai e o irmão de Leon foram trasladados para lá. Em Plaszów, corriam rumores de que Schindler pretendia alistar 30 novos judeus como trabalhadores. Portanto, uma lista havia sido confeccionada, e os nomes de Leon e sua mãe Chana lá figuravam. Um supervisor da fábrica de escovas informou que o nome de Leon havia sido riscado da lista.

Leon não queria morrer em Plaszów e decidiu conversar com um oficial alemão para que o ajudasse. Explicou sua ausência na lista até que o incrédulo (talvez benévolo) oficial, consultando o papel, ordenou incorporá-lo ao grupo de operários que partiriam rumo à fábrica de Schindler (LEYSON, 2013, pp. 98-99). O grupo escolhido ingressou na fábrica Emalia. Ali, homens e mulheres moravam em barracas separadas, e os SS não podiam entrar nelas sem autorização de Schindler. A comida era melhor do que em Plaszów, mas ainda as rações diárias eram insuficientes para saciar a fome.

Leon foi autorizado a compartilhar a mesma barraca com seu pai e seu irmão David. Os três dividiam uma liteira. A solidão e o desamparo desapareceram gradualmente. Na fábrica, trabalhava-se por turnos: operários não judeus durante o dia, e os judeus à noite. Schindler havia ampliado a fábrica e agora, além de panelas e frigideiras de metal, ele fabricava material bélico. Leon e David trabalhavam à noite, manipulando uma máquina que fabricava revestimentos para detonadores de bombas. Os turnos de 12 horas não tinham intervalos para comer. Ao amanhecer ambos devoravam suas rações e caíam exaustos na liteira. Nos
turnos noturnos, frequentemente aconteciam festas na fábrica (LEYSON, 2013, pp. 104-105).

Leon era tão pequeno que precisava subir sobre uma caixa de madeira para alcançar a máquina em que trabalhava. Schindler achava isso engraçado. Leon sentia-se orgulhoso quando Schindler lhe falava, pois era tido como um exemplo de funcionário
judeu aplicado. Certa vez, Schindler circulava pela fábrica quando Leon encontrava-se fora de seu lugar usual de trabalho, pois estava inspecionando outra máquina que seria instalada para executar uma tarefa diferente. Ao ver Schindler, ele ficou imóvel,
pensando que, em Plaszów, isso seria motivo suficiente para receber 100 açoites ou ser baleado. Pelo contrário, sua forte curiosidade resultou em recompensa, pois, junto com seu irmão, Leon foi trasladado a uma nova área de produção que requeria
maiores habilidades (LEYSON, 2013, pp. 106-108).

Ao tratar seus funcionários judeus como seres humanos, Schindler se revelava contra a lei nazista, que ordenava torturar e exterminar. Ele podia ser um nazista perigoso por definição, mas nada rígido na prática. No entanto, seus operários demonstravam muita cautela e respeito por ele. No verão de 1944, circulavam boatos de que a guerra se inclinava a favor dos aliados. Quando empresários alemães de Cracóvia começaram a empacotar seus pertences, guardar dinheiro e abandonar as fábricas, era evidente que o fim da ocupação alemã estava próximo. A fábrica de Schindler também fecharia, circulando uma lista daqueles operários que retornariam a Plaszów. Nela constavam os nomes de Leon, Moshé e David Leyser (LEYSON, 2013, pp. 110-111).

A fábrica de Brünnlitz

Para surpresa deles, Schindler decidiu mudar sua fábrica de panelas para Brünnlitz, na Tchecoslováquia. No dia do traslado, enquanto Schindler se distanciava do grupo trasladado, Leon segurava uma garrafa térmica em suas mãos, ela escorregou
e estourou, fazendo forte barulho. Foi uma sorte, pois isso chamou a atenção de Schindler, que se aproximou do menino Leon e colocou-o junto com seu pai e seus irmãos para voltar para “Emalia” (LEYSON, 2013, p. 115). Os quatro membros da família agora faziam parte do seleto grupo que se ocuparia da mudança da fábrica. Enquanto ferramentas e máquinas eram transportadas nos trens, a espera aconteceria em Plaszów. Ali os Leyson encontraram a irmã Pesza. Confiante, o pai Moshe
foi até Schindler e pediu-lhe que a colocasse na “Lista” dos que viajariam a Brünnlitz. Ele concordou. Temporariamente, os cinco membros da família estavam juntos novamente.

David Leyson era agora o operário no 288, o pai Moshé era o no 290, e o pequeno Leon era o no 289 da “Lista de Schindler”. Os nomes da mãe e da irmã estavam numa lista separada, com outras 300 mulheres. No dia 15 de outubro de 1944, em vagões separados de homens e mulheres, os Leyson saíam de Plaszów rumo à nova fábrica (LEYSON, 2013, pp. 117-121). O trem partiu rumo a Gross-Rosen, distante 280 quilômetros de Cracóvia. Os Leyson, vestindo farrapos, foram retirados do trem de gado. A ordem era ir aos chuveiros de água gelada, fazer raspagem do cabelo e caminhar diretamente até às barracas. Na manhã seguinte houve ‘exames médicos’ e a entrega de novas roupas aos prisioneiros.

Nenhum dos Leyson sabia o que estavam fazendo em Gross-Rosen. Seria isto parte do plano de Schindler? Será que ele teve problemas para instalar sua fábrica? O tempo ia deteriorando o corpo dos prisioneiros, que se assemelhavam a ‘mortos-vivos’.
Porém, uma tarde os futuros operários foram levados novamente até uma estação de trem. Num vagão de carga eles seguiriam rumo a Brünnlitz, aonde Schindler ia produzir munições de guerra. As mulheres viajariam em trens separados.

Brünnlitz era também um campo com oficiais e guardas, mas a presença de Schindler fazia a diferença. Após uma estadia em Gross-Rosen, ninguém se queixava das novas condições. O campo consistia num edifício inacabado de dois andares e uma fábrica ainda sem condições de produzir. Não havia liteiras, e todos dormiam sobre palha. A pior notícia foi que o trem das mulheres havia sido desviado para Auschwitz. Schindler havia viajado para lá com o intuito de buscar suas operárias. Através de subornos aos nazistas, conseguiu trazer as mulheres, argumentando que elas haviam sido treinadas para trabalhar em sua fábrica, “constituindo-se em mão de obra especializada insubstituível” (LEYSON, 2013, p. 120). Leon conta que o reencontro com sua mãe e Pesza foi emocionante; mesmo com suas cabeças raspada, elas estavam vivas, e isso era o que importava.
Os Leyson passaram oito meses em Brünnlitz, na fábrica de munições de Schindler. Periodicamente, os nazistas inspecionavam o trabalho, mas ali quase não se fabricavam munições utilizáveis.

Enquanto os alemães perdiam a guerra, Schindler se preocupava em buscar alimentos para seus funcionários, pois a comida era escassa. Cascas de batata secas nas chaminés da fábrica eram um prato comum em Brünnlitz. Nesta fábrica, Moshé, Leon
e David trabalhavam na ferramentaria. Schindler mantinha o costume de fazer festas no local para depois fiscalizar seus funcionários. Algumas vezes, Leon era convidado para frequentar seu escritório. Ele tremia e só relaxava quando Schindler
lhe oferecia um pedaço de pão, ‘butim’ compartilhado depois com seus familiares. Numa dessas conversas, ele convidou Leon a trabalhar no turno da manhã, que era mais tolerável física e mentalmente. (LEYSON, 2013, p. 122)

Com o passar da guerra, Schindler ficava cada vez mais sensível ao sofrimento dos judeus e, em certa ocasião, chegou a dizer que sempre “procurou combater o sofrimento insuportável do povo judeu” (citado por CROWE, 2004, p. 206).1  Durante as conversas com Schindler, os Leyson souberam que o fim da guerra se aproximava. A derrota alemã era motivo suficiente para alegrarse. Na primavera de 1945, exaustos, sem energia, Moshé, Leon e David já não conseguiam trabalhar
mais em pé. Leon conta que havia um único pensamento que o atormentava: “morrer assassinado pela última bala a ser disparada na guerra” (LEYSON, 2013, p. 124). Realmente, essa ideia não era tão irreal, pois, em abril de 1945, as SS receberam ordens estritas de fuzilar todos os Schindlerjuden.

Porém, para frustrar o plano, Oskar Schindler fez com que o SS responsável pelas execuções fosse transferido da área da fábrica. A guerra acabava. Cercado por aliados, Schindler fugia, não sem antes reunir seus operários para um discurso final. Na ocasião ele disse: “Vocês são livres! Sim, livres”. Atônitos, os Schindlerjuden não conseguiam dizer uma única palavra: a
liberdade oferecida a eles parecia um sonho quase impossível. Leon não conseguiu despedir-se pessoalmente do chefe, mas se aproximou dele junto com outros colegas para entregar-lhe um anel de ouro com uma inscrição retirada do Talmude: “Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro” (LEYSON, 2013, p. 125).

Depois da meia-noite, Schindler abandonou a fábrica em seu carro. Seu principal objetivo era alcançar as forças americanas, já que, se fosse capturado pelos soviéticos, seria morto. Naquela noite, os operários poderiam abandonar o campo, mas ninguém o fez. Em 8 de maio de 1945, um soldado russo ingressou ao campo de Brünnlitz e perguntou quem eram aqueles prisioneiros. Ao saber que eram ‘judeus poloneses’, eles foram deixados em liberdade. Milagrosamente, Schindler, um nazista contraditório e oportunista, havia salvado 1.200 judeus da morte (LEYSON, 2013, p. 126).

Refugiados em Cracóvia

Em Brünnlitz, nenhum prisioneiro assimilava a ideia de que o campo havia sido liberado e que agora os alemães eram reféns dos soviéticos. Alguns clamavam por vingança, mas sabiam que isso não apagaria as amargas recordações gravadas em suas memórias. A mãe de Leon queria voltar a Narewka para buscar Herschel e o resto da família, mas o pai disse que viajar ao leste era demasiado perigoso e o melhor seria que os cinco retornassem a Cracóvia (LEYSON, 2013, p. 127).

Desta vez, o trem era espaçoso, tinha liteiras e suas portas ficavam sempre abertas. Pela primeira vez, Leon fez algo diferente: pensou no seu futuro. Não pensava mais em driblar a morte, agora pensava em voltar à escola, ter um lar, comida adequada e, acima de tudo, segurança. Em Cracóvia, a dor persistia. A mãe, o pai e os irmãos de Leon, ainda com seus uniformes listrados, caminhavam sem rumo pela cidade onde moraram antigamente. As pessoas os olhavam surpresas, com um ar de curiosidade e apatia. Os antissemitas desejavam que os judeus abandonassem o país, enquanto outros, sem opinião formada, demostravam total indiferença com a situação (LEYSON, 2013, pp. 129-130).

Em Cracóvia, a animosidade contra os judeus sobreviventes dos campos aumentava dia a dia. Circulavam boatos de que os prisioneiros esqueléticos usavam sangue de crianças não judias para realizar suas transfusões, em uma nova versão dos
“libelos de sangue” da Idade Média. As sinagogas e prédios de judeus eram atacados com pedras. Em outros lugares da cidade, sinagogas e rolos da Torá eram queimados; judeus eram golpeados e hospitalizados. Moshé determinou que a família não
ficaria em Cracóvia, mas tampouco voltaria a Narewka, pois lá, no mês de agosto de 1941, os Einsatzgruppen (esquadrões da morte) haviam assassinando os judeus nas florestas.

Desde Cracóvia, os Leyson solicitaram ajuda a uma organização sionista que desejava criar um estado judeu. A ideia era que essa organização os retirasse da Polônia. Não foi cogitado ir à Palestina, pois lá a vida seria muito dura. A travessia familiar começou cruzando a fronteira, via Tchecoslováquia, rumo a Salzburg, na Áustria. De lá, uma organização das Nações Unidas encaminhou todos a um campo para refugiados em Wetzlar, na Alemanha (LEYSON, 2013, pp. 134-135).

Wetzlar era um campo diferente daqueles em que haviam estado os Leyson. Lá recebiam comida três vezes ao dia, tinham assistência médica e proteção do exército dos Estados Unidos. Havia uma sensação de liberdade. Já com novos amigos,
Leon competia para ver quem havia vivenciado a pior experiência durante os anos da guerra. Cada um tinha sua própria versão sobre o que era o inferno. Preocupado com a falta total de instrução e sem nenhuma possibilidade de frequentar a escola, Moshé queria que Leon estudasse com um tutor. Durante dois anos, três vezes por semana, ele estudou matemática, aritmética e noções de trigonometria (LEYSON, 2013, p. 137).

Estados Unidos

Através de organizações judaicas, os Leyson fizeram contato com familiares que moravam nos Estados Unidos. A irmã de Chana, de nome Shaine, e seu irmão Morris haviam abandonado Narewka e agora moravam em Los Angeles. Também o tio
Karl migrou, mas acabou falecendo ao chegar. Baseando-se nesta informação, achavam que os demais membros da família haviam sido assassinados na Polônia. Os familiares de Los Angeles não podiam entender como Chana, Moshé, David, Leon
e Pesza estavam ‘refugiados’ em um campo da Alemanha. Enviavam frequentemente pacotes de comida e caixas com presentes.

Em 1948, Pesza e David Leyson se filiaram à organização sionista e deixaram a Tchecoslováquia rumo ao Estado de Israel. Leon queria ir com seus irmãos, mas seus pais haviam decidido que ele viajaria com eles aos Estados Unidos. Mesmo com
idade de emancipar-se, Leon pensou que ainda não era o momento de ‘abandonar’ seus pais depois de tudo aquilo que haviam passado. Em maio de 1949, depois de três anos vivendo num campo de refugiados, os três Leyson foram informados que o
pedido de imigração havia sido aceito e eles viajariam aos Estados Unidos de América (LEYSON, 2013, pp. 139-140). De trem até Bremerhaven, na Alemanha, e, logo depois, num navio militar durante nove dias, Chana, Moshé e Leon cruzaram o Atlântico rumo a Boston, Massachusetts. Leon conta que “passou toda a travessia apreciando a profundidade do oceano, e que sua extensão lhe fazia sentir uma paz que jamais havia conhecido anteriormente” (LEYSON, 2013, p. 139).

Um filho do tio Morris, de nome Dave Golner, morava em Connecticut. Ele recebeu os Leyson no momento em que as autoridades de migrações registravam os passageiros do navio. Dave falava um pouco de ídiche, mas nada de polonês. Levou os três Leyson até a estação de trem, pois eles viajariam até Los Angeles, na Califórnia, durante cinco dias. Sem falar inglês, Leon teve suas primeiras lições dentro do vagão de trem; foi uma experiência que jamais esqueceu.

O futuro nos Estados Unidos se apresentava incrivelmente promissor. Leon estava entusiasmado por saber que, desta vez, poderia sonhar acordado com seu futuro. Tinha certeza de que aprenderia o inglês, de que conseguiria um emprego, de que casaria e formaria uma família feliz, até ficar velho e morrer. Quando o trem chegou à Union Station de Los Angeles, Leon juntou a equipagem de todos e desceu do trem com bolsos repletos de pennies, quarters, nickels e dimes, as moedas juntadas no trem.

Ao colocar seus pés na Califórnia, com 19 anos, uma nova vida começava (LEYSON, 2013, p. 142). Nos Estados Unidos, Leon não falava para ninguém sobre suas experiências durante a 2ª Guerra. Era difícil de explicar isto às pessoas. Não existia um vocabulário para descrever esse tipo de vivências. Para a maioria dos americanos a palavra “campo” evocava lembranças felizes de verão, nada parecido com as vivências de Plaszów ou Gross-Rosen. Naquela hora, sua meta era esquecer por completo as recordações passadas e recomeçar a vida (LEYSON, 2013, p. 143).

A primeira moradia nos Estados Unidos foi um pequeno apartamento de um quarto no prédio do tio Morris. Os pais se acomodaram no quarto, e Leon dormia num sofá na cozinha. Tudo era infinitamente melhor se comparado com as liteiras
abarrotadas nos campos de concentração. Os Leyson se inscreveram num curso noturno de inglês para estrangeiros. Moshé conseguiu empregar-se como porteiro de uma escola. Com 50 anos e pouco domínio do inglês, não tinha tantas opções de trabalho. Leon trabalhava numa fábrica de carrinhos para compras. Seria um emprego temporário, pois ele sonhava mais alto. À mãe Chana custava bastante aprender o inglês, mas logo conseguiu falar com vizinhos e fazer suas compras (LEYSON, 2013, p. 144).

Chana Leyson se dedicou a cuidar do marido e do lar. Ela se sentia sozinha e triste por se haver distanciado dos filhos David e Pesza e por ter perdido Tsalig ao ser levado pelos alemães. Leon aprendeu com facilidade o inglês. Começou a fazer diversos cursos. Durante um ano e meio, assistiu a aulas pela manhã, trabalhando às tardes até a meianoite. Ao sair, dormia no ônibus até chegar a casa. Em 1951, Leon terminou seus estudos e foi logo alistado ao exército. Recebeu treinamento básico em Fort Ord, em Monterrey, na Califórnia, e depois serviu em Aberdeen, estado de Maryland. Todos os americanos reclamavam do serviço, mas, para Leon, ter uma cama própria, roupa decente, comida suficiente e ainda um dinheirinho era um luxo. Não tinha motivo para reclamar de nada. No final do serviço militar, Leon havia sido transferido para Atlanta, estado de Georgia. Durante um final de semana, recebeu autorização para ir à cidade. Depois de tomar o ônibus, ele foi sentar em seu lugar favorito, no final do ônibus, para poder dormir.

Leon viu que o motorista parou o ônibus e caminhou em sua direção, dizendo-lhe que não poderia sentar ali, pois os lugares do fundo estavam reservados para negros. Devia mudar de lugar para a parte dianteira do ônibus. Isto representou um golpe duro para Leon Leyson, já que, em Cracóvia, judeus tinham também lugares reservados. Havia descoberto que, nos Estados Unidos, que tanto amava, também havia vestígios de forte discriminação e intolerância (LEYSON, 2013, págs. 146-147).

Voltando a Los Angeles, Leon decidiu continuar sua formação educativa. Mesmo sem haver terminado a escola secundária por causa da guerra, o conselheiro lhe deu uma excelente opção: estudar para ser professor de desenho industrial. A oportunidade outorgada foi otimamente aproveitada. Leon estudou na City College de Los Angeles e depois na Universidade Estadual da Califórnia. Com o passar do tempo, Leon obteve ainda um mestrado em educação na Universidade Pepperdine. Em 1959, Leon Leyson lecionava na “Escola Secundária Huntington Park”, onde trabalhou por 39 anos.

Formando uma família

Em janeiro de 1965, durante o sexto ano de trabalho no Colégio Huntington Park; Leon conheceu Lis, uma professora de inglês para estrangeiros, que chamou sua atenção. Iria ficar por um semestre na Califórnia, mas mudou seus planos originais
e ficou por mais tempo. No final do semestre, Lis e Leon já estavam namorando e casaram-se nesse verão. Anos mais tarde, mudaram-se para Fullerton, na Califórnia. Tiveram filhos, criados sem os traumas do passado, como americanos. Para deixar aos filhos um legado de liberdade, inicialmente não contou nada sobre suas experiências. Gradualmente, eles foram tomando conhecimento acerca do passado do pai (LEYSON, 2013, p. 149).

Moshé Leyson faleceu em 1971, ano em que já haviam nascido dois netos que alegravam a vida de Chana. Ela morreria cinco anos depois. Nos Estados Unidos, Leon conheceu outros Schindlerjuden, como Mike Tanner, um operário judeu que havia trabalhado na fábrica de Cracóvia numa máquina perto da de Leon. Leopold Page, pouco maior que Leon, era um devoto de Oskar Schindler e se propunha a difundir sua imagem nos Estados Unidos. Ele e sua esposa o receberam no aeroporto
quando chegou a Los Angeles em 1965. Leon admite que sua vida mudou bastante com o lançamento do filme A Lista de Schindler, baseado no livro do escritor Thomas Kenneally, amigo de Page. A obra cinematográfica de Steven Spilberg fez
Leon refletir acerca de seu silencio. Em breve seria entrevistado para o Los Angeles Times (LEYSON, 2013, pp. 150-151).

Em 23 de janeiro de 1994, a história de Leon Leyson, ilustrada com fotos, foi tema da primeira página do jornal Los Angeles Times. Após a publicação, alunos e colegas queriam cumprimentá-lo e obter detalhes além daqueles revelados no periódico. Desde aquela data, Leon começou a receber convites para contar sua história de vida em igrejas, sinagogas, entidades políticas, militares, civis e filantrópicas dos Estados Unidos e do Canadá.

Em 1995, Leon Leyson conheceu a Dra. Marilyn Harran, professora e diretora do “Centro Educativo Rodgers sobre o “Holocausto” na Universidade de Chapman, em Orange, na Califórnia. Com apoio, surgiram mais conferências, e ele foi à Universidade de Chapman, em 2011, onde foi homenageado com o título honorário de “Doutor em Humanidades” (LEYSON, 2013, p. 154). Durante seus últimos anos de vida, Leon ministrou conferências com frequência. Ele nunca treinava suas
falas nem fazia anotações. Suas palavras exprimiam fortes sentimentos, não falavam em rancor, muito menos em vingança.

Encerro este relato com o trecho de uma entrevista de TV dirigida pelo escritor Joseph Campbell, e lembrada pelo próprio Leon Leyson. Nela o célebre entrevistador define o que é um herói. Para Campbell, um herói “é um ser humano comum que faz o
melhor nas piores condições” (citação em LEYSON, 2013, págs. 157-158). Sem sombra de dúvida, para Leon, Schindler personifica esta definição.

Leon e Lis Leyson tiveram dois filhos: Constance (Stacy) Miriam vive com seu esposo David em Virginia e tem três crianças (Nicholas, Tyler e Brian); já Daniel e sua esposa Camille moram em Los Angeles e têm uma filha, Mia, e dois meninos
gêmeos, Benjamim e Silas. O sobrevivente Leon Leyson faleceu nos Estados Unidos em 12 de janeiro de 2013, após uma
luta de três anos contra um linfoma de células cancerígenas. Mesmo com muita dor e sofrimento, jamais perdeu seus modos amáveis e generosos (LEYSON, 2013, p. 158).

Notas
1. Para Crowe, o empresário alemão deve ser julgado à luz das demonstrações e atos de valor e coragem face aos
Schindlerjuden.

Referências
Crowe, David. Oskar Schindler: The Untold Account of his Life, Wartime Activities, and the True History Behind the List.
New York: Westview Press, 2004.

Faingold, Reuven. “Feiwel Wichter: Operário 371 da ‘Lista de Schindler’”. MORASHÁ, n. 76, ano XIX, junho 2012, pp.
56-59.

Leyson, Leon. El chico sobre la caja de madera; memorias del sobrevivente más joven de la Lista de Schindler [The Boy on the Wooden Box]. Buenos Aires: V & R Editoras, 2013.