Noé, o “homem justo”

Artigo publicado na revista História Viva – Grandes Temas, Edição especial No 25, Céu e Inferno, ponto final, pág. 82.

Anterior ao Judaísmo, ao Cristianismo e ao Islamismo, o herói que salvou do Dilúvio à vida terrestre, encarnou a retidão de caráter e a necessidade de vigilância em relação às tentações.

Judaísmo, Cristianismo e Islamismo acreditam na existência do mundo vindouro, cujos degraus (Paraíso, Purgatório e Inferno) apresentam caminhos alternativos para o reencontro das almas. Mas, será que os fiéis globalizados de hoje já reservaram seu lugar no mundo celestial? Evitando proselitismo, escolhi analisar aqui o perfil de um “homem justo” que antecedeu aos grandes mestres das três religiões monoteístas.

Na busca de aptidões e deficiências do homem justo, a primeira imagem que surge é a de Noé ou Noah. Conhecido como um dos maiores heróis bíblicos, a sua vida íntegra perante Deus fez com que ele e sua família fossem salvos do Dilúvio. Mesmo vivendo no seio de uma geração perversa, Noé alcançou um reconhecimento universal.

Esse filho de Lamech simboliza o virtuoso passional, a antítese de toda uma geração. Desde que o pecado se instalou no mundo, a maldade passou a ser parte da história da Humanidade. E à medida que a Humanidade se multiplicava, aumentava também a maldade.

Uma marca registrada daquela geração noachita (Noach) era a corrupção. As Escrituras bíblicas afirmam que o homem perdeu o poder de fazer o bem, e a prole antediluviana vivia mergulhada em atos pecaminosos e imorais.

Os homens dos dias de Noé agrediam-se mutuamente, pois “encheu-se a terra de violência” (Gênesis 6:11). E, como se ainda não bastasse a perversidade, a corrupção e a violência, aquela geração também era caracterizada pela incredulidade, pois não deu ouvidos à pregação de Noé, o “mensageiro da justiça”.

Apesar de viver em meio de uma geração fraca em valores, Noé teve uma vida norteada pela retidão. Ele era visto como um “homem justo”, e por isso deu início a uma nova geração. Noé era tido como um homem que andou com Deus. A expressão “andar com Deus” aponta para uma conduta impecável, aliada a uma vida de obediência ao Criador.

Noé é um modelo a ser seguido. A sua devoção ao próximo era indescritível. Ao sair da Arca com sua família, ele edificou um altar e ofereceu sacrifícios (Gênesis 8:20). Isto demonstra que uma vida terrena sustentada no louvor e na devoção é condição sine qua non para obter a merecida recompensa no mundo vindouro.

Reflitamos sobre o homem justo de forma imparcial. A Bíblia nos revela suas virtudes e qualidades, bem como suas falhas e defeitos. Apesar de se apresentar como um ser humano reto e temente de Deus, Noé, após o Dilúvio, plantou uma vinha, embriagou-se e mostrou a sua nudez (Gênesis 9: 20-27), perdendo subitamente sua reputação.

Com esse incidente na vida do justo Noé, aprendemos muito sobre a necessidade iminente de sermos vigilantes em tempo total, pois as tentações testam os nossos instintos diariamente. O paraíso, o purgatório e o inferno representam os vários corredores do mundo vindouros, corredores necessários para todos os fiéis; e independente da religião por eles professada.