Yeshayahu Leibowitz e o Holocausto

Para o filósofo Yeshayahu Leibowitz (1903-1994), o Holocausto representa uma “nova religião”; algo no qual devemos acreditar piamente sem nenhum tipo de objeção ou questionamento. Para ele e seus discípulos, os professores Shraga Elam, Gilad Atzmon e Yoshua Shalev, a maioria dos judeus do mundo vivem distantes de valores judaicos e alguns inclusive se autodefinem ateístas. Assim, nestes últimos tempos, vários judeus optaram por adotar e difundir a tragédia do Holocausto como “uma religião constituída também por mandamentos”.

Dito de outra forma, para Leibowitz o Holocausto perpetrado por Hitler e seus asseclas entre 1939-1945, rendeu museus que hoje são templos localizados em cidades, tem seus mandamentos e decretos, possui seus profetas e sacerdotes, detém santos e rituais, como também lugares sagrados de peregrinação. Todos são identificados não só como formas inspiradoras de misericórdia ou clemência, (lembram a necessidade de não esquecer); mas também trazem consigo a força da vingança. Assim, toda tentativa de questionar o duplo-conceito Religião Holocausto pode levar a consequências graves, inclusive à prisão.

Os museus do Holocausto estão espalhados em mega-metrópoles como Washington, New York, Miami, Londres, Viena, Berlim e Buenos Aires. Os profetas do Holocausto são personalidades destacadas, ícones como Elie Wiesel, o escritor Primo Levi e o caçador de nazistas Simon Wiesenthal. Os mártires são figuras intocáveis, sagradas; que respondem aos nomes de Anne Frank, Victor Frankel, Itzhak Katzenelson e os irmãos Bielski, entre outros.

No entanto, para obter um panorama completo faltaria mencionar quais seriam os dez mandamentos dessa “nova religião” definida como Holocausto?  Vejamos:

1.      Lembrar sempre o que fez Amalek, neste caso os não judeus e arianos.

2.      Nunca comparar o Holocausto do povo judeu com outros genocídios.

3.      Nunca equiparar os crimes nazistas àqueles cometidos pelo Estado de Israel.

4.      Nunca duvidar acerca do número de vítimas judaicas, os “seis milhões”.

5.      Nunca duvidar que a maioria das vítimas fora exterminada em câmaras de gás.

6.      Nunca duvidar do satânico e decisivo rol que teve Hitler no extermínio judaico.

7.      Jamais questionar o direito do Estado de Israel a existir como “Estado judeu”.

8.      Jamais criticar as lideranças e o governo de Israel.

9.      Jamais criticar organizações judaicas e liderança sionista por abandonar seus irmãos judeus na Europa durante a Segunda Guerra.

10.  Acreditar seriamente nestes mandamentos e nunca duvidar de sua veracidade.

O professor Leibowitz foi o primeiro israelense a questionar estes dez mandamentos relacionados com o Holocausto e o primeiro acadêmico a definir a Shoá como religião. As controversas ideias de Leibowitz foram ultimamente descontextualizadas e sofreram interpretações nocivas. Desde sempre os árabes teimaram em colocar a adoração a Deus acima de qualquer tipo de Holocausto, portanto os ataques de 11/09/2001 não passam de uma armadilha, uma falsa bandeira orquestrada pelo Ocidente para lançar uma cruzada mortal contra o Islã. Esta premissa é fácil de constatar. Para os árabes, da mesma forma que o Holocausto foi utilizado pelos judeus para se sentirem vitimizados; assim os atentados às torres gêmeas foram usados pelos EUA para vitimizar-se e assim vingar seus mortos dos perpetradores islâmicos.

Uma das táticas mais perversas dos antissemitas tais como o escritor José Saramago, é utilizar frases de impacto que os judeus pacifistas e  humanistas adoram lançar contra Israel. Na subjetividade perturbada desses judeus, o Estado judeu encarna uma espécie de símbolo cruel para seus próprios desencantamentos existenciais de caráter subjetivo, ideológico, utópico. É o que motiva, por exemplo, um sobrevivente do Holocausto a participar do movimento Free Gaza ou ao cineasta Silvio Tendler a enviar uma carta aberta ao governo de Israel, acusando-o de praticar uma política genocida. Com prazer sádico, os antissemitas fazem as frases venenosas dos judeus voltarem-se duplamente não apenas contra Israel enquanto lar judaico, mas contra todos os judeus, incluindo os mais revoltados.

José Saramago tampouco se furtou a usar essa tática perversa, citando, contra Israel e os judeus, frases deslocadas do velho mestre Yeshayahu Leibowitz e do escritor David Grossmann. Os escritores David Grossmann e Amós Oz não deixaram de considerar de escandalosos e irracionais, os comentários do Prêmio Nobel português.

Na ocasião, um velho amigo da comunidade judaica, o jornalista e historiador Luiz Nazário; definiu muito bem a postura hostil de Saramago:

“Não se limitando a escrever ficção indigesta, mas produzindo uma relevante produção de subliteratura partidária e militante, que exprimia mais que a própria ficção, o fundo escuro de sua alma; José Saramago resumiu, em textos dignos de citação e, portanto, de influência mais funesta sobre os homens desinformados, todos os clichês do antissemitismo contemporâneo, cada vez mais concentrado no ódio a Israel”.

Uma pena realmente que o grande mestre Yeshayahu Leibowitz não estivesse vivo naquela hora para rebater os infundados argumentos do Nobel português. Em 2010, José Saramago faleceu; mas, suas venenosas palavras, chegando a comparar os israelenses atuais aos nazistas; prejudicaram os judeus dentro e fora de Israel. As réplicas dos interlocutores de turno não tardaram; mas até hoje tiveram pouca repercussão na mídia.

Está na hora de colocar o debate em dia, refutar acusações infundadas e enquadrá-lo no seu contexto histórico; guardando nele as devidas proporções.